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Professora com 20 anos de serviço colocada a 43 quilómetros da Guarda

Piores suspeitas de docentes confirmaram-se, sendo ultrapassados por colegas que terão apresentado atestados médicos

As listas de colocação de professores dos ensinos básico e secundário divulgadas a semana passada só vieram confirmar o receio de um grupo de docentes do distrito da Guarda. Os contestatários queixam-se de terem sido “ultrapassados” por colegas com menos anos de serviço e com um número bastante superior no quadro de zona pedagógica (QZP) que terão apresentado atestados médicos falsos para conseguirem destacamento por condições específicas, ou seja, alegando doença incapacitante ou para apoio ao cônjuge, ascendentes ou descendentes. Entretanto, a nível nacional, cerca de dois mil professores terão retirado os atestados médicos do concurso.

Aurora Ricardio é uma das professoras que se sente «prejudicada» por alguns dos seus colegas terem requerido destacamento por condições específicas. «Vou no meu 20º ano de serviço e sou colocada numa localidade que fica a 43 quilómetros da Guarda – Quinta de Santo António, freguesia da Bendada (Sabugal) – quando costumava ficar num raio de 25 quilómetros há já vários anos», critica. Algo que sucedia «sempre por concurso, sem invocar qualquer doença, quer minha, quer de familiares», garante a docente número 177 da lista do QZP que no ano passado ficou colocada em Valhelhas. Uma localidade onde este ano ficou colocada uma professora que é a número 426 da lista. «Não a conheço, não sei se realmente tem um destacamento por motivo válido para ter apresentado atestado, mas espero que sim. E há outras que ficaram mesmo na Guarda e que têm muito pouco tempo de serviço», assegura. Aurora Ricardio realça que há «casos muito gravosos» que, tal como na sua situação, foram ultrapassados por colegas com menos anos de serviço. «O meu número mereceria outra colocação, mas por exemplo penso na número 1 que já trabalhava há mais de 15 anos na Guarda e que foi colocada no Baraçal, a mais de quilómetros e fora do concelho», indica. Por outro lado, garante conhecer «muitos casos de pessoas com três ou quatro anos de serviço que alegando terem filhos pequenos foram colocadas num raio de 20 quilómetros», lamenta, reclamando «mais consideração» por parte de alguns colegas.

Para agravar ainda mais a situação de ter ficado mais longe do que o costume e que garante merecer, Aurora Ricardio foi colocada numa escola que pensou «que já não existisse no século XXI», tendo ficado «muito preocupada», porque, por exemplo, não tem telefone. Comparada com a escola de Valhelhas, parece que recuou «dois séculos» quando pensa no que deixou e no que encontrou. Confrontada com uma situação que lhe provoca uma «revolta muito grande», esta professora acredita que os seus colegas que terão, alegadamente, apresentado atestados falsos poderão ainda virem a ser substituídos. «Gostava muito que fossem averiguados todos os casos e que os professores fossem colocados no lugar que realmente merecem», diz. «Acredito que a Ministra vá reagir, até porque se este ano lectivo já fica na história por tantos problemas, não se pode dizer que os alunos ficariam traumatizados se houvesse um novo concurso ou uma nova correcção», reforça. Contudo, a haver mesmo uma substituição, ela deverá ter lugar «o mais rápido possível». Apesar das muitas suspeitas levantadas, Aurora Ricardio desconhece casos de colegas seus que tenham retirado os atestados, alegando condições específicas, tal como sucedeu em vários pontos do país. «Se calhar, medo terão os que já estão colocados de já não poderem retirar os atestados», diz. De facto, a nível nacional, cerca de dois mil professores terão desistido dos pedidos de destacamento por condições específicas, depois da Inspecção-Geral de Educação ter iniciado as averiguações ao número excessivo, mais de nove mil, de atestados médicos apresentados pelos docentes este ano. Estes números foram avançados no final da semana passada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), com base em dados do Ministério da Educação (ME).

Ricardo Cordeiro

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