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Processo disciplinar a médicos defensores da maternidade

Administração da ULS da Guarda considera que houve «uso indevido de folhas timbradas» da instituição

O Conselho de Administração (CA) da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda instaurou um processo disciplinar aos dois dinamizadores do abaixo-assinado enviado, em Setembro, ao primeiro-ministro a propósito das maternidades da Beira Interior por alegado «uso indevido de folhas timbradas e envelopes da instituição sem autorização superior». «Sempre utilizei folhas timbradas na luta pelos interesses do hospital e vou continuar a utilizar», reage um dos visados, Henrique Fernandes.

O outro médico do Sousa Martins a quem foi instaurado processo disciplinar, por despacho datado de 16 de Outubro, é António Matos Godinho, com o CA a ter comunicado a decisão a ambos na semana passada, via carta, assinada pelo seu presidente, Fernando Girão. «Levar com um processo disciplinar do hospital por usar papel timbrado significa que não tiveram mais nada por onde me conseguir pegar, o que representa um elogio», considera Henrique Fernandes – que tem sido o rosto mais visível na reivindicação de uma tomada de posição do Governo sobre a questão das maternidades da Beira Interior. O oftalmologista foi, de resto, o primeiro subscritor do documento enviado em Setembro ao primeiro-ministro com as assinaturas de mais de 50 médicos do Sousa Martins.

«Já só me falta levantarem um processo por usar indevidamente papel higiénico do hospital para tomar notas de assuntos relativos à minha vida pessoal», ironiza o médico, ao recordar que, em 2004, aconteceu uma situação idêntica quando foi «acusado de gastar electricidade para operar doentes». Na altura, adquiriu dois aparelhos novos para a Oftalmologia, a expensas suas, com o intuito de defender a manutenção do serviço, tendo o processo sido arquivado pela Inspecção-Geral de Saúde (IGS). «Há pessoas que nunca aprendem», afirma, falando em «atitude pouco inteligente» por parte do CA da ULS neste novo processo. Para Henrique Fernandes, Fernando Girão «nunca desempenhou o papel dele e não só em relação à questão da maternidade, como em muitos assuntos de importância vital para o hospital e para a ULS da Guarda». Na sua opinião, «o que se passa com as maternidades é uma questão bastante grave», adiantando, sem revelar nomes, que o assunto terá de ser discutido «a nível de políticos responsáveis», com quem diz existirem já encontros agendados.

De acordo com Henrique Fernandes, os médicos vão «continuar com a luta» pela maternidade da Guarda e ainda pela resolução do «problema do novo hospital, que não existe, estando apenas em construção a fase de ampliação». Recorde-se que, segundo o oftalmologista, os médicos do hospital da Guarda receiam que esteja na calha o encerramento da maternidade de Castelo Branco, por alegado mau funcionamento, antevendo que esta situação levará a uma concentração dos meios existentes no distrito vizinho na da Covilhã. Os profissionais de saúde temem que a vantagem geográfica do Centro Hospitalar da Cova da Beira no contexto da região, que o coloca numa posição central em relação às unidades das duas capitais de distrito, e o aumento do número de partos na Covilhã possam vir a colocar em causa a da Guarda. Entretanto, Fernando Girão já veio dizer que tudo não passa de «especulação», considerando que o serviço do hospital guardense está seguro e que este é «um assunto encerrado». Contactado por O INTERIOR, o presidente do CA da ULS da Guarda não quis prestar declarações sobre o processo disciplinar instaurado aos dois médicos.

O abaixo-assinado envolveu mais de 50 médicos do Hospital Sousa Martins

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