A suspeita está lançada sobre a forma como decorreram as eleições para as primárias do PS em Vila Nova de Foz Côa. A 28 de setembro, António José Seguro venceu folgadamente naquela secção – tal como na Federação da Guarda –, mas esta semana três membros do secretariado da concelhia fozcoense demitiram-se denunciando o alegado transporte gratuito de militantes e simpatizantes de várias freguesias.
Em carta enviada aos órgãos federativos, Bruno Navarro, Joaquim Félix e Maria Luísa Bouwman justificam-se dizendo que não querem ver o seu nome associado a «eventuais expedientes eleitoralistas» e nem tão pouco «ser coniventes, por omissão, com procedimentos que revelem uma manifesta desconsideração pelas regras democráticas». Em causa está o «número inaudito» de votantes que foram às urnas naquela secção escolher entre Seguro e Costa, mas sobretudo o alegado transporte «“por atacado”» de militantes e simpatizantes em autocarros disponibilizados gratuitamente para o efeito. Conforme noticiou O INTERIOR na última edição, nesta concelhia Seguro obteve 527 dos 596 votos validados, enquanto Costa conseguiu 61 tendo-se ainda registado três votos brancos e cinco nulos.
Na carta, a que O INTERIOR teve acesso, os demissionários consideram ter havido «uma manifesta desconsideração pelas regras democráticas» ao serem utilizados vários autocarros «aparentemente arregimentados por representantes da candidatura de António José Seguro» para transportarem eleitores de várias freguesias do concelho. Afirmando que este método constituiu «uma novidade absoluta em eleições internas no PS», os subscritores da carta questionam se «a despesa do aluguer dos autocarros pela candidatura de António José Seguro consta do orçamento previamente apresentado ao partido e aprovado pela competente comissão eleitoral» ou se «as expensas foram da responsabilidade da Federação da Guarda ou da concelhia de Vila Nova de Foz Côa», sendo que, neste caso, teria de haver deliberações dos respectivos órgãos.
«Naturalmente, o objetivo de semelhante decisão seria sempre o de proporcionar a todos os militantes e simpatizantes do concelho (e não apenas a alguns) um acesso mais facilitado às mesas de voto, pelo que os mandatários concelhios das duas candidaturas deviam ser disso obrigatoriamente notificados», lê-se ainda na missiva. Contudo, «o mandatário concelhio da candidatura de António Costa não foi notificado pelas estruturas do partido da disponibilização destes meios de transporte», garantem os três dirigentes demissionários. O presidente da Federação da Guarda do PS foi confrontado com estas demissões na tarde da passada segunda-feira e não escondeu ter sido «apanhado de surpresa» com as suspeitas levantadas. «Isso não tem fundamento», declarou José Albano Marques, que revelou ter remetido «de imediato, por email» a carta de Bruno Navarro, Joaquim Félix e Maria Luísa Bouwman para a candidatura de António José Seguro, à qual compete esclarecer o assunto.
Isto porque o dirigente negou que tenha sido a Federação ou a concelhia de Vila Nova de Foz Côa a alugar os autocarros e lamentou que surja agora este tipo de episódios porque «dividem o partido, quando o momento é de união».
Seguro obteve 1.348 votos em Aguiar da Beira, Celorico e Foz Côa
No distrito da Guarda estavam inscritos 5.336 militantes e simpatizantes para votar nas primárias de 28 de setembro, mas apenas 4.131 o fizeram segundo dados da Federação local. Desses, 2.528 escolheram António José Seguro e 1.571 António Costa. O agora ex-líder venceu em seis concelhias e destacou-se mesmo em Aguiar da Beira, Celorico da Beira, Seia e Vila Nova de Foz Côa. Por sua vez, António Costa ganhou nas restantes oito, entre as quais a Guarda, Gouveia, Fornos, Mêda e Trancoso. Contudo, esta maioria não foi suficiente para o presidente da Câmara de Lisboa vencer também na Federação da Guarda e fazer o pleno em termos nacionais. A diferença está nos números, pois Seguro contabilizou 1.348 votos em apenas três secções: Aguiar da Beira, Celorico da Beira e Vila Nova de Foz Côa.
Luis Martins 
