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Preto&Branco

mitocôndrias e quasares

Numa era onde o digital domina em várias frentes, onde se procura promover a digitalização de toda a informação, também a fotografia se viu invadida pela “pixelmania”. Em virtude deste novo enquadramento tecnológico, o mundo da fotografia foi alvo de um conjunto de alterações significativas, que mudaram um pouco a metodologia utilizada nesta arte. A principal, e talvez a mais significativa delas todas, foi a possibilidade de observar e analisar o trabalho no instante imediatamente a seguir a ele ser produzido. Esta ferramenta útil, na medida que nos permite poupar algumas dezenas de euros em revelações, retira-nos o entusiasmo e emoção que existe no processo de revelação. É por isso que, mais do que problemas na qualidade do produto final, existam ainda muitos fotógrafos a revelar as suas fotografias a preto e branco.

O processo de revelação, tal como toda a fotografia desenrola-se em torno da luz. Mas o que é exactamente a luz?

A luz visível é um fluxo de energia radiante proveniente do Sol, ou de outra fonte de luz radiante. As suas características principais são quatro e ocorrem em simultâneo. A luz comporta-se como se se propagasse na forma de ondas, à semelhança das ondas na superfície das águas. Os diferentes comprimentos destas ondas dão aos olhos a sensação de diferentes cores. Por outro lado, a luz propaga-se em linha recta e uma grande velocidade, 300000 km/s, no vazio, um pouco menos no ar e ainda um pouco menos em substâncias mais densas como a água ou o vidro.

A luz apresenta uma natureza dualista, isto é, em determinados fenómenos comporta-se como onda, mas em outros comporta-se com se fosse uma partícula de luz – fotão.

No processo de revelação de uma fotografia a preto e branco, associado ao fenómeno da luz existe também uma reacção de oxidação-redução. Este tipo de reacções químicas é caracterizado pela transferência de electrões. A película fotográfica a preto e branco é uma tira clara, contendo celulose e coberta de grãos de brometo de prata, AgBr. A exposição do filme activa o brometo de prata, passando para um estado excitado, AgBr*. Em seguida, o filme exposto é tratado com um revelador, substância contendo um agente redutor moderado.

No processo de oxidação-redução, os iões Ag+, no brometo de prata excitado, AgBr*, são preferencialmente a prata metálica. A quantidade de partículas pretas de prata metálica formadas sobre o filme é directamente proporcional à quantidade ou intensidade da luz que originalmente incidiu sobre o filme. O AgBr que não reagiu tem que ser removido do filme, caso contrário, podia reagir lentamente, tendo como consequência que o filme ficaria completamente negro. Para evitar esta reacção indesejável, o filme é rapidamente tratado com um “fixador”, normalmente uma solução de tiossulfato de sódio.

O processo descrito anteriormente, corresponde à preparação de um negativo a preto e branco. A imagem positiva pode ser obtida fazendo incidir luz através do negativo sobre o papel fotográfico e repetindo o procedimento de revelação. Como as regiões brancas da imagem fotografada aparecem pretas no negativo, ficam opacas e originam áreas não excitadas (brancas) no papel fotográfico. Desta forma, este processo inverte as áreas claras e escuras do negativo de forma a produzir a imagem desejada.

Este processo de revelação de fotografias a preto e branco reflecte a ideia que Michael Lanford tem da fotografia ao referir-se que “a fotografia consiste essencialmente num conjunto de ciência prática, imaginação e desenho, habilidade técnica e capacidade organizativa”.

Por: António Costa

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