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«Presidir à Cercig não é um cargo, mas um encargo»

Cara a Cara – Entrevista

P- O que motivou a sua candidatura à direcção da CERCIG?

R- Por um lado, o facto de ser uma instituição que nos toca sempre e nos obriga a uma sensibilidade especial. Não se trata de uma missão na área política, desportiva ou educacional normal. Esta é uma área onde tratamos com pessoas que têm uma necessidade de educação especial, onde é exigido um certo tacto e maior atenção. Lidamos com pessoas com dificuldades muito delicadas. Sempre estive ligado ao associativismo e à actividade da CERCIG nos últimos 20 anos. Embora apenas no Conselho Fiscal e na Assembleia-Geral, sempre apoiei naquilo que pude. Nesse sentido, o que me motivou foi, sobretudo, o conjunto de situações delicadas que é preciso tratar e a sensibilidade que eu penso que posso ter para este tipo de actividade. Contudo, foi tudo decidido um pouco em cima da hora, uma vez que, no entender de todos, seria normal que Vergílio Bento continuasse à frente da instituição, por ser uma pessoa ligada à educação e por ter feito um percurso muito digno, forte e activo nos últimos seis anos. Não era expectável que ele saísse neste momento. No entanto, entendo as suas razões: Há algum excesso de trabalho a nível político que o motivou a abandonar o caminho que encetou. Depois, perante as solicitações de um número significativo de cooperantes, aceitei. Sei que esta decisão vai implicar um caminho duro, que é uma actividade contínua e que me vai obrigar a ter menos tempo para outros trabalhos. Ainda assim, achei que era o momento certo para poder orientar uma grande casa como esta.

P- Já tinha uma ligação com CERCIG há muitos anos…

R – Sempre estive ligado às suas actividades. Apercebi-me que este é, exactamente, um lugar para dar. Não é um cargo, é um encargo. É preciso trabalho, dedicação, contactos, pessoas, amigos e influências para conseguir mais e mais para a instituição e tentar melhorar, permanentemente, questões relacionadas com a educação, as actividades profissionais, as instalações. Tudo isto é fundamental para que as crianças a nosso cargo estejam melhor e mais inseridas na sociedade. No entanto, e embora conheça largamente a situação e orientação que a CERCIG foi tendo ao longo dos últimos 30 anos, nunca tive uma actividade directamente ligada à direcção. Mas penso que a instituição sempre foi dignificada por todos os dirigentes que teve e que a transformaram numa entidade ímpar na cidade e no distrito.

P – Quais são os principais desafios a que a sua equipa se propõe?

R- Com toda a humildade, não temos ainda projectos físicos. A tomada de posse aconteceu anteontem e a direcção ainda vai reunir para definir estratégias. Temos algumas ideias, alguns sonhos, mas ainda não há factos. O que há, na minha óptica imediata, é cimentar a situação actual da instituição. Os projectos que vêm de trás serão seguramente para continuar. O anterior presidente tinha tudo lançado para uma residência de vida autónoma e para um lar residencial – há trabalho feito – e iremos, seguramente pegar nestes dois projectos. Depois da residência, pretende-se avançar com um lar residencial, porque sabemos que estas crianças ainda têm, hoje, pais ou avós que as ajudam, mas um dia mais tarde poderão não ter ninguém e precisarão da CERCIG. Além disso, há muitos sonhos. Mas não passam disso mesmo, para já. Temos uma actividade muito alargada e há que ter cuidado com o que projectamos, porque o orçamento não é eterno, mede-se ano a ano. Neste momento, as nossas valências são na área do ensino especial, com 13 colaboradores. Dez funcionários tratam do Centro de Actividades Ocupacionais (CAO), 20 trabalham na reabilitação profissional, cinco nas actividades de tempos livres, dois na quinta agrícola e oito no Rendimento Social de Inserção. Ao todo, temos cerca de 60 colaboradores, o que nos obriga a alguns cuidados com o orçamento. Contudo, um dos maiores ensejos seria a reabilitação do espaço da instituição junto ao parque industrial. Mas todas essas decisões serão tomadas por toda a direcção, porque gosto de trabalhar em equipa.

P- Espera, então, concretizar o projecto do lar residencial, uma aspiração com mais de uma década?

R – Creio que sim. É uma aspiração antiga, que já foi trabalhada por outras direcções e ficou para trás, por duas vezes, no programa PARES, por razões que desconheço. Sei é que a anterior direcção empreendeu esforços no sentido de influenciar positivamente o Estado, demonstrando-lhe a necessidade deste equipamento. Das informações que tenho, o processo ficou bem encaminhado. Estão construídos os alicerces da intenção e agora cabe-me a mim passar aos factos.

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