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Presidente da Junta dispara sobre habitante após discussão

Diferendo com o pároco local poderá ter estado na origem da altercação

O padre Manuel Janela voltou a ser, alegadamente, a causa de desacatos na freguesia de Bendada, no concelho do Sabugal. Na noite da passada quinta-feira, os ânimos exaltaram-se entre o presidente da Junta e um habitante, ao ponto de Adérito Pinto, 60 anos, ter ido buscar a pistola a casa e resolver a discussão disparando um tiro no contestatário do pároco. O homem, de 36 anos, ficou ferido no abdómen sem gravidade.

«Ouvi-os berrar um com o outro, nunca pensei que o senhor Adérito perdesse as estribeiras», refere uma moradora, residente no largo da aldeia, que pediu para não ser identificada. «Esta terra não tem paz há muitos anos, são processos atrás de processos entre apoiantes e contestatários do padre, além de situações pouco dignas. É uma tristeza», justifica. Terão sido, justamente, «coisas antigas, alegadamente relacionadas com o padre» que estiveram na origem da altercação, adianta o coordenador da Polícia Judiciária (PJ) da Guarda. Mário Bento acrescenta que o suspeito usou uma pistola alterada de calibre 6.35 e que o ferido tem antecedentes criminais, sendo conhecido na localidade «por ser desordeiro e criar desacatos».

Presente ao Tribunal do Sabugal, o autarca foi constituído arguido e sujeito ao termo de identidade e residência. A Bendada vive dividida desde 1999, quando o padre Manuel Janela se apôs à instalação de uma antena de comunicações móveis junto à capela da Senhora do Castelo, impedindo que a Junta auferisse uma renda anual de 1.500 euro. A aldeia nunca mais se entendeu, chegando mesmo a celebrar missas distintas, uma com o pároco e outra pela televisão. O pior aconteceu na Consoada de 2000, quando as duas facções se envolveram em confrontos, com navalhadas à mistura, que levou à hospitalização de outros dois paroquianos com feridas ligeiras.

Manuel Janela não chegou a celebrar a Missa do Galo e teve que ser retirado da igreja pela GNR. O templo só voltou a abrir portas uma semana antes da Páscoa do ano seguinte e sob a protecção de 10 guardas, previamente solicitados pelo padre, há quase 50 anos na Bendada.

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