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Prémio Eduardo Lourenço distingue Maria Helena da Rocha Pereira

Iniciativa promovida pelo Centro de Estudos Ibéricos pretende promover a cooperação transfronteiriça e a identidade ibérica

A ensaísta e docente universitária Maria Helena da Rocha Pereira foi a galardoada na primeira edição do Prémio Eduardo Lourenço, instituído pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI) para distinguir personalidades ou instituições com relevo na cooperação ou identidade ibérica. O galardão foi entregue na passada quinta-feira, na Guarda, numa cerimónia que contou com a presença de Eduardo Lourenço e Teresa Patrício Gouveia.

Dez mil euros é o valor do prémio, que visa agraciar a intervenção relevante e inovadora na cooperação transfronteiriça e na promoção da identidade e da cultura portuguesa e/ou espanhola. Ao receber o galardão, a catedrática jubilada da Universidade de Coimbra disse que os elogios à sua pessoa são «hiperbólicos», mas reconheceu «mérito» à sua obra para merecer o prémio. Maria Helena da Rocha Pereira desenvolveu ao longo da sua carreira uma intensa actividade pedagógica e científica nas áreas da cultura clássica greco-latina, a sua influência na cultura portuguesa e o latim medieval. Foi a primeira mulher catedrática da Universidade de Coimbra, tendo ensinado ao longo de 40 anos e publicado mais de 300 trabalhos, entre ensaios e traduções. Para a homenageada, a atribuição do Prémio Eduardo Lourenço foi uma «surpresa muito grande» e tem um «sabor especial por estar ligado ao nome de um vulto da cultura portuguesa, meu amigo e colega Eduardo Lourenço», confessa a professora. Em relação ao trabalho desenvolvido pelo CEI, a docente diz ter conhecimento de algumas das actividades e acredita que é um projecto com futuro, pois «tem grandes nomes na fila da frente e as duas universidades mais antigas e de grande qualidade», constata.

O reitor da Universidade de Coimbra, Seabra Santos, considera que a catedrática jubilada é uma «digníssima vencedora», porque, corroborando as palavras de Veiga Simão, tem «grandeza nacional e internacional, com uma trajectória ímpar, que disseminou os seus conhecimentos por vários continentes». Seabra Santos disse também que a decisão foi tomada unanimemente por um júri composto pelo ex-ministro da Educação Veiga Simão, pelo professor universitário Eduardo Catroga e pelos reitores das Universidades de Coimbra e Salamanca (Espanha). Além do reconhecimento a Maria Helena da Rocha Pereira, «premeia-se também as raízes comuns da nossa língua mãe, o latim», sublinha Enrique Battaner, reitor da Universidade de Salamanca, para quem «o prestígio dos prémios é dado pelos homenageados». Já para Maria do Carmo Borges, presidente da Câmara da Guarda, a atribuição deste prémio é «um marco para todos nós», enquanto José Ribeiro Ferreira, professor catedrático da Universidade de Coimbra e antigo aluno da homenageada na disciplina de História da Cultura Clássica, definiu a professora como sendo uma «mestre em plena acepção da palavra».

Eduardo Lourenço considerou, por sua vez, que a ordem da sessão devia ter sido ao contrário: «Eu é que devia receber um prémio chamado Maria Helena da Rocha Pereira», ironizou o ensaísta, confessando que «nenhuma atribuição do prémio seria tão honrosa e gratificante para mim». O ensaísta recorda-se da antiga condiscípula de Coimbra e não hesita em caracterizá-la como sendo «um vulto excepcional da cultura portuguesa e europeia». Pelo que este primeiro prémio obriga a uma elevação da qualidade no próximo ano, «mas esse é problema dos candidatos, já que começou tão bem, não há razão nenhuma para que não prossiga bem», adianta. Quanto à sede do CEI que ainda está em construção, o presidente honorário remete-se ao silêncio, mas espera que aquele seja «o espaço adequado e o sítio certo». Em relação à futura biblioteca municipal da Guarda, cuja construção está atrasada, e que vai ser baptizada com o seu nome, Eduardo Lourenço espera que «ainda esteja cá para a ver», graceja o ensaísta. Esta cerimónia foi o ponto alto das conferências “Territórios e Culturas Ibéricas”, realizadas nos dias 2 e 3 no auditório municipal.

Patrícia Correia

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