Quero começar por dizer que estou solidário com o povo português, Com uma frase, calo aqueles que me acusam de falta de solidariedade e enervo os que não gostam de ver textos começados por um verbo, ainda para mais conjugado na primeira pessoa.
Acrescento que o meu apoio à luta dos meus concidadãos (cá está outra vez, repararam?) é sincero, abnegado e um outro adjectivo muito usado por militantes de causas várias, mas que agora de repente não me ocorre.
Estou de acordo com os protestos, que têm tido o apoio expresso deste jornal, contra o encerramento de algumas maternidades da região. E oponho-me frontalmente à ideia de manter apenas o serviço de partos no hospital da Covilhã para servir todas as mulheres da região. Acho inaceitável que submetam os covilhanenses – os que nasceram e os que vieram – a longas filas de espera no McDonald’s ou nas caixas dos hipermercados, por causa de uma prioridade sexista que põe as grávidas à frente de toda a gente, apenas pela insignificância de trazerem um bebé dentro da barriga. Se fosse apenas pelo critério do peso ou pelo tamanho do abdómen, muitos homens ocupariam o primeiro lugar dessas filas. Eu próprio deveria ter prioridade sobre uma grávida de, digamos, 13 semanas e 4 dias. Além disso, é muito mais fácil segurar nos bebés enquanto estão no saco amniótico do que depois cá fora. Digo isto porque já vi os meus irmãos pegarem nos filhos deles e garanto-vos que não parece tarefa nada simples. Para piorar a situação, em qualquer dos sítios referidos uma mulher grávida demora sempre o triplo do tempo a ser atendida, devido aos desejos estranhos e insaciáveis. (Ex: No McDonald’s as grávidas costumam pedir um Big Mac sem pepino, um Royal Deluxe com cerejas do Fundão e uma massagem nas pernas, o que atrasa significativamente o serviço, principalmente se a senhora em causa sofrer de varizes.)
Para tornar o cenário mais negro, é necessário imaginar como seria a cidade com os bebés todos da região a fazer barulho no mesmo local. É certo que os recém-nascidos não ficam muito tempo no hospital e que o edifício fica longe do centro da cidade, mas juntar todas as cordas vocais acabadas de sair dos úteros maternos em escassas dezenas de metros quadrados é muito bem capaz de transformar o mais pacato cidadão num bombista suicida que se faz explodir na ala de obstetrícia. A propósito disto, perguntei um dia a uma educadora de infância (reparem como caí no machismo estereotipado de me referir a esta profissão utilizando uma mulher como exemplo) como é que ela aguentava dias inteiros dentro de uma sala cheia de garotos aos berros. Calmamente, tirou os tampões dos ouvidos e disse: “Desculpa, não ouvi. Podias repetir?”
Perante isto, o ideal seria montar um serviço de partos em cada aldeia e cada vila. Em vez de obrigar os habitantes de Peraboa ou de Famalicão da Serra a deslocarem-se à cidade para dar à luz os seus rebentos, causando transtorno não só aos futuros pais mas também – como já se viu – ao resto da população, apenas para que as senhoras possam ser mimadas com epidurais e outras invenções desnecessárias, gostaria de sugerir a utilização das instalações da Junta de Freguesia, da Casa do Povo ou do pavilhão gimnodesportivo para aí fazer nascer os homens e as mulheres que um dia serão o futuro deste país. Uma maca, algumas toalhas, um biombo para não perturbar o jogo de futebol e um balde de água quente são a tecnologia suficiente para um parto em condições. Nos filmes, os bebés nascem saudáveis em qualquer lugar adverso e água quente e toalhas é tudo o que vejo os actores pedirem.
Espero que o governo perceba que a verdadeira produtividade não está em encerrar maternidades, mas sim em abrir mais. De preferência uma em casa de cada mulher prenha, onde se possa manter a mamã e o seu rebento em sossego (deles e nosso) nos quatro meses anteriores ao parto e, principalmente, nos cinco anos que se lhe seguem. Assim, sem petizes a azucrinar, todos trabalharíamos mais e melhor.
Por: Nuno amaral Jerónimo