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Praias fluviais com boa água, mas pouca

Belmonte, Cortes do Meio e Ourondo registam menos banhistas do que em anos anteriores

A falta de água sentida por todo o país, parece já estar a afectar os banhos nas praias fluviais da Cova da Beira. Embora ainda não se tenha chegado à seca extrema, muitas já vão sentido a quebra do número de pessoas que este ano tem preferido as piscinas.

Pelo menos, é o que acontece em Belmonte. A praia fluvial, que está a funcionar há cinco anos, tem «pouca» água, o que tem motivado os habitantes e visitantes a «entupirem» as piscinas municipais. António Rodrigues, presidente da junta de freguesia, explica que apesar daquela zona de lazer, junto ao rio Zêzere, ser «muito» agradável e «convidativa», a condicionante actual de escassez de água leva os banhistas a optarem por outras águas. Algo que pode também influenciar a qualidade da água uma vez que não permite a renovação normal, já que não se podem abrir as comportas durante a noite. Ainda assim, Paulo Manteigueiro, chefe do agrupamento de escuteiros de Belmonte, entidade responsável pela exploração da praia, garante que as análises têm dado resultados «aceitáveis», embora não saiba se isso se vai manter por muito tempo. É que, além de abastecer a praia fluvial, a água ainda tem que ser repartida com a rega dos terrenos agrícolas a jusante e, os açudes a montante, «não permitem que ela chegue cá abaixo», lamenta Manteigueiro.

Apesar de ter menos pessoas do que em anos anteriores, o responsável diz que «tem havido muita gente», sobretudo aos fins-de-semana. Já durante a semana, tem valido a colónia de férias da Santa Casa da Misericórdia de Belmonte, que tem levado os jovens para aquele parque. Além da frescura da água, podem usufruir de um espaço relvado, com mesas e assadores, de um bar de apoio e de sanitários móveis, dos “kaiakes” para aluguer e, ainda, de alguns desportos como tiro com arco e BTT. Em construção está um bar de apoio fixo e uns assadores maiores do que os actuais para utilizar no Verão e no Inverno, apesar de talvez já não estarem prontos para esta época balnear.

Já em Cortes do Meio, concelho da Covilhã, a água ainda não faltou. «Até agora temos um caudal idêntico aos outros anos», salienta Paulo Rodrigues, contando com «boas» nascentes. Todavia, o presidente da junta receia que a seca se prolongue porque também pode vir a ter problemas, mas «por enquanto não se verificam», sustenta. O autarca garante que a adesão é «cada vez mais significativa», não só por residentes e emigrantes, como por pessoas e turistas da região, sobretudo porque o Poço da Monteira mantém a sua beleza natural. A envolvente teve alguns arranjos exteriores, mas o «principal não tem qualquer intervenção do homem», justifica Paulo Rodrigues. Sendo uma das praias «mais procuradas» do concelho da Covilhã, dispõe de um espelho de água «fabuloso», de um bar de apoio, de uma zona de lazer com mesas e «muita» sombra e WC’s móveis. Em projecto está a construção de um restaurante com balneários e um dique com espelho de água com mais de 200 metros. Quanto à qualidade da água, o autarca garante que é «óptima» e das «mais puras» da Beira Interior.

Trutaria do Paúl polui águas de Ourondo

O mesmo não pode dizer o presidente da junta de freguesia do Ourondo. Para já, ainda se pode tomar banho nas águas da Ribeira da Caia, mas ao que parece não deve ser por muito tempo. Pelo menos, enquanto a trutaria do Paúl descarregar os dejectos para a ribeira. Joaquim Santos teme que dentro de poucos anos a ribeira que atravessa a sua freguesia «fique igual ao Zêzere», porque «limpámo-la, mas duas semanas depois está tudo negro», lastima o autarca. «As pessoas ainda não se convenceram que poluir é fácil, mas despoluir é difícil», critica Joaquim Santos, referindo que luta há mais de dez anos pela retirada da trutaria do Paul, cuja ETAR não está em funcionamento, tanto na Câmara da Covilhã como no Ministério do Ambiente, onde «ninguém nos deu ouvidos», suspira.

Por enquanto a afluência ao parque fluvial de Ourondo é a mesma, numa altura do ano em que a população triplica. Ali podem desfrutar de um parque de merendas, balneários, restaurante, snack bar e muito arvoredo. Quanto à qualidade daquelas águas, onde também desagua a Ribeira de Casegas, as últimas análises – realizadas há dois anos – foram «todas» positivas, mas desde essa altura ainda não foram feitas mais nenhumas. Joaquim Santos diz não ter verbas para fazer análises todos os meses de Verão, porque se trata de um espaço totalmente gratuito, onde realizou um investimento avultado, e cada teste à água custa mais de 500 euros. «É uma pena que venha a não servir para nada», teme o presidente da junta, apontando que as trutas «cada vez são mais» e a água da ribeira «já não é o que era». Para já, a água ainda se mantém clara, mas nada garante que dentro de poucos anos o cenário não se altere, estando mesmo em perigo a saúde dos banhistas.

Proprietário da trutaria do Paúl desvaloriza poluição da ribeira

António Lopes, recente proprietário da trutaria do Paúl, garante que aquela estrutura de criação de peixe, não descarrega «nada» para a ribeira. «Nem sequer tenho informação disso, nunca ouvi nada», afirma. Estranhando as críticas que têm surgido, o empresário diz que a ribeira, que atravessa o Paúl, o Ourondo e outras aldeias daquela corda, «deve ter poluições mais graves do que a das trutas», referindo-se nomeadamente às fábricas que estão a montante.

O proprietário da trutaria assegura que está licenciada e legalizada e que a água da lavagem dos dois tanques é decantada e absorvida pela rega dos campos agrícolas. No entanto, não é isso que consta no seio das populações abrangidas por aquelas águas, mas António Lopes entende que «o mal que possa vir das trutas não me parece nocivo para a saúde pública». A trutaria já está naquela vila há mais de 30 anos e o dono explica que «nunca ouviu ninguém falar disso».

Ainda assim, António Lopes não nega totalmente que não possa haver alguma poluição, mas «não sei se é nocivo, pois não sou especialista», sustenta. O empresário garante ainda que a trutaria cumpre as regras estabelecidas, mas que depois de assinar a escritura da compra e venda promete fazer algumas obras para melhorar a gestão daquele espaço. «Se me mostrarem que é preciso ter alguns cuidados não os irei negar», assegura António Lopes.

Rita Lopes

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