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Poupe água

Editorial

O mês passado assistimos à destruição das Caraíbas. Sucessivos furacões e temporais que, segundo os especialistas, atingiram amplitude máxima e nunca antes vista, varreram o paraíso insular americano do cimo da terra. E para esses cientistas essas condições climatéricas adversas vão repetir-se cada vez com mais frequência e de forma mais violenta. Com o “Harvey”, o “Irma” e o “José” a temporada de furacões nas Caraíbas reacendeu o debate sobre as mudanças climatéricas e o aquecimento global. Entretanto, como muito bem assinalou Clara Ferreira Alves, no “Expresso”, «todos os dias, em todos os lugares, assistimos à predação do ambiente sem que os políticos mexam uma palha». Este imobilismo, de quem tem o poder de tomar medidas e alterar o rumo de destruição ambiental, acontece por todo o lado, do presidente de junta da aldeia mais recôndita aos líderes mundiais; da Apple que lança novos produtos com sucesso global atirando milhões de iPhones para o cemitério tecnológico em que se converteu África ao presidente brasileiro que autorizou o corte de milhares de hectares de floresta amazónica, passando por um Trump insustentável. «Nenhum sistema político consegue inverter a estupidez global» e, por isso, a relevância do repto lançado pelo presidente francês a Donald Trump: «Make our planet great again».

Acontece, porém, que as mudanças climatéricas são cada vez mais percetíveis e evidentes à escala global. Os furacões de nome feminino assolaram a Florida e o Texas, levaram mais destruição ao Haiti ou a Cuba e arrasaram as Bahamas, Porto Rico ou as Ilhas Virgens.

Em Portugal, o verão e as temperaturas altas teimam em entrar pelo outono dentro. Depois de um estio trágico, com junho a ter temperaturas acima dos 40 graus, com milhares de hectares queimados e dezenas de mortes a lamentar, continuamos a achar que tudo tem a ver com o crime incendiário, com «mão-criminosa», que a há, mas na verdade a floresta arde por incúria, abandono, pobreza e alterações das espécies. E pelas consequências do aquecimento global – há mais de seis meses que não chove, num ano especialmente quente e seco.

Os agricultores e produtores pecuários há muito que apelam às autoridades para a tomada de medidas, não só no Alentejo habitualmente quente e seco, mas por todo o país. Mas nada foi feito, salvo as medidas de apoio anunciadas pelo governo para alguns distritos, nos finais de julho. Na verdade a seca generalizou-se e há falta de água por todo o país. Ninguém parece muito preocupado. Depois dos gastos excessivos a regar relva e jardins, nos meses mais quentes do ano e no horário de maior calor (qualquer criança aprende na escola que não se devem regar as plantas quando está mais calor, mas parece que há serviços públicos que não sabem o mais básico) chegou a hora de fechar as torneiras e poupar água, de deixar a relva e as flores secar, de não lavar carros, de suspender as aulas de natação e encerrarmos as piscinas (Fornos de Algodres já o fez), de esperar pelas chuvas antes de gastar em limpeza do espaço público. As mudanças climatéricas arrasaram com o paraíso nas Caraíbas e vão alterando o clima em todo o planeta. Temos de aprender a cuidar do meio ambiente, o nosso paraíso, e a cuidar do mais precioso dos bens: a água.

PS1: Nas últimas semanas o jornal O INTERIOR esgotou em várias bancas. E na última semana, os jornais regionais, todos, esgotaram em vários quiosques. Ou seja, a imprensa continua a ser para a maioria das pessoas o meio indispensável para saber as incidências da vida pública, conhecer os resultados eleitorais e saber quem são os novos eleitos (ou reeleitos). Apesar das muitas plataformas informativas, o jornal em papel continua a ser o mais confiável e esclarecedor dos meios. Obrigado pela preferência.

PS2: Faleceu o cónego Eugénio da Cunha Sério, diretor do semanário católico “A Guarda”. Apresentamos as nossas condolências à família, à comunidade diocesana e ao centenário jornal “A Guarda”.

Luis Baptista-Martins

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