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Post Mortem

José Martins Igreja tinha tudo para ganhar. Tinha pela frente um adversário de fora, que trazia em cima de si, para além desse estigma, os de ser um dinossauro autárquico errante e um profissional da política, pertencendo ainda por cima a um partido que deixou o país de rastos. Quando em todo o país o PSD era duramente castigado, quando outros profissionais da política, como Menezes, eram humilhados por gente vinda da sociedade civil, Igreja teve o pior resultado de sempre do PS na Guarda e ficou-se por pouco mais de sete mil votos.

Não bastava, vê-se agora, ser de cá, sugerir que a sua quase virgindade política era uma garantia de renovação do PS por dentro, afixar cartazes vistosos e prometer algo espectacular: a candidatura da Guarda a “Património Mundial da Humanidade”, na perifrástica e ignorante tradução socialista de “World Heritage”. Convinha também ter um programa coerente, que fugisse ao trivial das campanhas autárquicas das rotundas e dos pavilhões multiusos, algo que desse alguma esperança a um eleitorado cansado e desiludido pelo estado a que chegou o concelho após anos e anos do mesmo.

Muita gente exigia uma mudança e uma garantia de mudança, que José Igreja não soube sequer sugerir. Poderá Álvaro Amaro mudar o concelho de forma decisiva? Do discurso de vitória há que reter duas ideias, uma boa e uma pelo menos discutível: o aproveitamento da localização da Guarda como factor de atracção de investimento; a intenção de pedir ao poder central mais recursos para a Guarda, como forma de compensação pelas remessas dos emigrantes da região nos anos sessenta e setenta (!)

Tenho de recordar que a estratégia do peditório já foi tentada e falhou no tempo das vacas gordas, era Sócrates primeiro-ministro e Joaquim Valente, seu amigo, presidente da Câmara da Guarda. A não ser que sobrem uns milhões do iminente segundo resgate da Troika para isso, e ainda haveria que ver em que se traduz em concreto “isso”, será melhor pensar num plano “B”.

Entretanto, sugiro (de novo) que vá pensando em dois dos grandes problemas da autarquia: o excesso de pessoal e o excesso de dívida.

Por: António Ferreira

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