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Portugal futebol clube

Menos que Zero

O Euro2004 traz o país alegre. Mais do que a religião, o futebol é hoje o verdadeiro ópio do povo e, por isso, de um momento para o outro a crise deixou de estar na ordem do dia.

E enquanto o país se une em torno da sua selecção, os portugueses dividem-se em relação à importância da organização deste campeonato em Portugal. Já se disse de tudo um pouco: que se gastou demasiado dinheiro em estádios, que o país está a ser varrido por uma onda de nacionalismo bacoco e até que o Governo escondeu os problemas de Portugal atrás do evento. Embora estas teorias tenham algo de verdade, parece-me incrível que alguns tendam a destacar o que é negativo em detrimento da face mais positiva deste acontecimento. Construíram-se mais estádios do que o necessário, é certo, mas não podemos esquecer que estas obras criaram empregos, que os estádios têm agora condições para receber grandes competições internacionais e que foram melhoradas muitas infra-estruturas rodoviárias.

Num outro nível, deve destacar-se o facto do Euro estar a funcionar como um fortíssimo instrumento promocional do país. Por estes dias, milhões de pessoas ficaram a saber que Portugal existe e que é hoje em dia um país moderno, seguro e acolhedor. Estes são precisamente três dos factores mais ponderados na hora de escolher um destino para férias e investimentos. A tudo isto devemos somar as enormes receitas turísticas que diariamente estão a entrar nos cofres do comércio, da hotelaria e, consequentemente, do Estado. As contas ainda não estão feitas, mas parece-me que os benefícios directos desta organização suplantarão em muito as despesas.

A própria onda de nacionalismo que varre o país tem o seu quê de interessante, pois permitiu o reencontro das novas gerações com a sua história. Hoje, os miúdos sabem o significado da bandeira, conhecem o hino e ficaram curiosos em relação ao passado de Portugal. Esta crescente identificação com a nossa cultura poderá criar novos públicos para os museus e para a literatura portuguesa, por exemplo.

Apesar de tudo, os mais críticos salientam que a população esqueceu os problemas do país e só pensa no Euro. E mesmo que a selecção ganhe, dizem, a alegria durará um dia e depois voltam as amarguras do nosso quotidiano. É verdade mas, não sendo eu um amante do futebol, considero que o êxito da selecção portuguesa é apenas a cereja no cimo do bolo. O mais importante é a promoção do país, o impacto das receitas do Euro nas contas portuguesas e a prova da nossa capacidade organizativa.

Por: João Canavilhas

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