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Portagens na A25 e A23 preocupam empresários

Fim das SCUT gera descontentamento em Trancoso, Celorico, Aguiar da Beira e Mêda

A decisão do Governo de introduzir portagens na A25 e A23 está a gerar descontentamento entre os empresários, que prevêem vários efeitos negativos no tecido económico e empresarial da região. O fim destas SCUT irá acentuar os problemas do interior, argumentam. Além disso, as empresas constatam que grande parte do antigo IP5 foi aproveitado para construir a A25 e que, por isso, não há uma alternativa a esta rodovia.

«Temos um fraco tecido empresarial, essencialmente pequenas empresas, poucos recursos e também uma indústria descapitalizada, o que significa que a nossa realidade não pode ser comparada com as de Lisboa ou Porto», argumenta Josefina Torres, presidente da direcção da Cooperativa Agrícola Beira Serra, sediada em Vila Franca das Naves (Trancoso). A empresária constata que a região «não tem o poder económico e nem o poder de compra de outras regiões do litoral». Daí que defenda que «deveria adiar-se a introdução de portagens na A25 e A23 por alguns anos, para que a região possa melhorar economicamente». «Entendo que tenham que ser pagas, mas a decisão de avançar já com portagens aqui não será benéfica», antevê Josefina Torres. «O interior ficará ainda mais isolado», considera, por sua vez, Pedro Santiago, da Santiago e Cª, Lda, também de Trancoso, que opera no sector dos transportes de mercadorias a nível nacional e internacional. «Temos quatro camiões e mais 10 a trabalhar connosco e, como é óbvio, utilizamos muito as duas auto-estradas», refere o empresário, para quem as portagens vão aumentar os encargos das empresas e constituem «mais uma preocupação a juntar às que já temos».

Opinião idêntica tem José Manuel Torres, dos Móveis Torres. Esta firma, também sediada naquele concelho, tem a fábrica e o armazém em Vila Franca das Naves e possui uma loja na Guarda e outra em Castelo Branco, sendo que as auto-estradas são, por isso, estratégicas no negócio. «Como utilizamos muito as duas, a decisão vai afectar-nos», diz o empresário, ao explicar que os funcionários da empresa têm de se deslocar de dois em dois dias a Castelo Branco para fazer a distribuição. «Temos a crise que se conhece e a situação vai complicar-se ainda mais», queixa-se. Acrescenta que a loja de Castelo Branco tem neste momento clientes oriundos da zona de Abrantes e Entroncamento e receia perdê-los: «Há pessoas que, para evitar as portagens da A1, preferem ir a Castelo Branco comprar, por não se pagar na A23. Duvido que continuem a deslocar-se à região», prevê. No concelho vizinho de Celorico da Beira o discurso é semelhante. «Vai ser mais um problema a juntar aos muitos que há já no interior», afirma António Sena, que tem uma empresa do ramo alimentar.

«Portajar a A23 e a A25 significa boicotar as empresas»

Ainda que não utilize muito as auto-estradas – por ter a actividade centrada em Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Trancoso e Aguiar da Beira – este empresário, que se desloca uma vez por mês a Lisboa, também lamenta a introdução de portagens: «Sou contra porque ficaremos ainda mais pobres do que o que já somos e iremos conseguir atrair ainda menos gente à região», refere. Já Paulo Amaral, do Hotel Mira Serra, diz que «portajar a A23 e a A25 significa boicotar as empresas que estão a aforrar as mangas para conseguirem sobreviver a esta crise». E lança a questão: «Que alternativas temos à A25, se foi construída sobre o IP5? A EN16 tem muitos anos e não serve quem vem do Porto, assim como a EN 17 não é solução para quem viaja a partir de Coimbra», analisa. Para Paulo Amaral, o turismo na Serra da Estrela vai ser afectado e os turistas vão optar por outros destinos «porque vão preferir não pagar portagens». «O sector do turismo estava a começar a crescer, numa região com enormes potencialidades», diz ainda.

As preocupações no que toca ao sector do turismo são partilhadas por Virgínia Gomes, proprietária da Quinta Santo Estêvão, em Aguiar da Beira. «Vai certamente afectar o sector», lamenta. Na sua opinião, «o Governo deveria ter em atenção as realidades locais». «Estão a cortar-nos as pernas», sublinha. «Estou muito desiludido com este Governo porque estava mesmo convencido que as SCUT eram para manter», reage, por sua vez, Mário Dinis, outro empresário de Aguiar da Beira. «Estamos longe e isolados e ainda vamos ficar mais», diz. Para o empresário, do ramo da construção civil, as empresas vão ter dificuldades em sobreviver «e vai ser cada vez mais difícil atrair novos investidores». «O tecido empresarial vai enfraquecer ainda mais», entende. José Manuel Pinto, da J. Pinto, que comercializa instalações técnicas para a construção civil, na Mêda, deixa uma sugestão: «Todas as viaturas que circulam na A23 e A25 em trabalho não deveriam pagar um cêntimo», defende. «Estou muito pessimista em relação ao futuro da nossa região», acrescenta. O também empresário medense José Maria Andrade, que vende materiais de construção civil, diz que defende o princípio do utilizador pagador, mas refere que, no caso do interior, «não deveria esquecer-se da realidade que existe». «Já se sabe que vão aumentar os custos de produção para todos nós», lamenta.

Comentários dos nossos leitores
ana anam.parra@hotmail.com
Comentário:
concordo plenamente que o interior vai ficar mais isolado com o fim das SCUTS. O governo teria todo o direito de pôr portagens se tivesse construido auto-estradas de raíz paralelas às IP,s, mas limitou-se a aproveitar estes trajectos sem deixar alternativa para os utilizadores. Não viajo muito, mas quando necessitar de ir para norte ou para sul não tenho alternativa porque nos foi vedada.
 

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