Uma semana depois da Câmara da Guarda ter aprovado um plano de redução dos subsídios na área do desporto, O INTERIOR foi ouvir alguns responsáveis de colectividades do concelho sobre a medida. A maioria dos dirigentes reconhece que os tempos actuais são de crise e compreende, por isso, os cortes nas comparticipações, mas todos reclamam o pagamento das verbas em atraso que nos diversos casos ascendem a várias dezenas de milhares de euros.
Luís Tomé, presidente do Grupo Cultural e Recreativo de Casal Cinza, considera que a redução é «correcta», numa altura em que o país está em crise. «O que não é correcto é não cumprir com o que está estabelecido. Por pouco que seja, a Câmara deve cumprir o que promete. Temos que saber com o que podemos contar», reforça. O dirigente assegura que os «cerca de 30 mil euros» em atraso por parte da autarquia afectam «muito o dia-a-dia do clube», mas garante que a inscrição na IIª Divisão Distrital de seniores não está em risco. O Guarda Unida é outro dos cinco clubes do concelho que participou no segundo escalão do futebol distrital, embora tenha mais de 250 atletas federados em várias modalidades. O seu presidente aceita que, «em tempos de crise, toda a gente tem de fazer sacrifícios», mas sustenta que «os cortes têm que ser feitos a todos os níveis e não apenas no Desporto».
António Pissarra revela que a colectividade fundada em Maio de 2008 não tem recebido «a tempo e horas o que estava acordado» com a Câmara, que deve ao clube «mais de 40 mil euros». E “responde” ainda a Vítor Santos, vereador do Desporto, para quem «a Câmara não é dona dos clubes», mas, segundo o presidente do Guarda Unida, «os dirigentes também não o são. Hoje estão uns e amanhã outros», esclarece, sublinhando que «quem está nas colectividades gasta muito tempo e dinheiro, porque gosta de fazer as coisas». A dívida da autarquia ao Guarda Desportiva também ronda os 40 mil euros, o que «torna ainda mais difícil gerir o clube, porque é dinheiro que contávamos ter no início da apresentação dos orçamentos anuais e que não apareceu nos momentos certos». Ainda assim, Carlos Chaves Monteiro aceita a redução dos apoios camarários por o país estar «a atravessar uma grave crise económica e financeira», embora reconheça que a medida vai trazer «algum constrangimento».
O presidente ressalva ainda que «independentemente dessa restrição, gostaríamos que o cumprimento das obrigações de ambas as partes fosse efectivo, o que não tem acontecido, o que dificulta ainda mais o cumprimento dos nossos objectivos». Quem não concorda com a atitude do município é o presidente do Grupo Desportivo e Recreativo das Lameirinhas: «Dificilmente se compreende porque a Câmara da Guarda tem vindo a promover eventos muitos caros e cuja visibilidade é discutível em detrimento do desporto que se faz no concelho. Penso que a autarquia se deve virar para dentro», sugere Alberto Marques. O dirigente considera que «a realidade não é a melhor, mas os custos inerentes à prática desportiva são elevados. O Lameirinhas é a única equipa com projecção nos campeonatos nacionais e cortar-se nos apoios prejudica imenso a nossa actividade», garante. De resto, avisa que, «a continuar a redução de verbas, será de equacionar a continuação do futsal», revelando que a dívida da autarquia para com a colectividade «excede os 40 mil euros».
Ricardo Cordeiro