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População unida na defesa da maternidade

Duas mil pessoas manifestaram-se na Covilhã contra o encerramento do bloco de partos

Duas mil pessoas manifestaram-se no último sábado na Praça do Município da Covilhã contra o eventual encerramento da maternidade do Centro Hospitalar da Cova da Beira que serve também os concelhos do Fundão, Belmonte e Penamacor.

O protesto, convocado pela autarquia local com o apoio da Câmara do Fundão e da União de Sindicatos de Castelo Branco (USCB), não passou despercebido na cidade e foi encarado como um sério aviso ao Governo de que tem que recuar na medida. «Se o Governo tomou esta decisão pensando que aqui não há voz e que não sabemos defender os nossos interesses, engana-se! Está a levar a resposta com esta manifestação», disse Carlos Pinto, perante a multidão que se concentrou no Pelourinho. «Com medidas desta natureza, seria bom que o Governo descesse à terra», ironizou o autarca. Cartazes com críticas às medidas governamentais, ao próprio Primeiro-Ministro e a reivindicar a manutenção do serviço destoavam-se no “mar de gente”, assim como as t-shirts que a autarquia distribuiu junto da população – um total de mil – com o slogan “Eu nasci na Covilhã”. Crianças, pais e avós vestiram a camisola, enquanto que outros as penduravam nos carrinhos dos bebés com pouco meses.

Esta medida é «uma inexplicável leviandade, que põe em causa a própria afirmação da Covilhã como cidade moderna», criticou Carlos Pinto, classificando a intenção do Ministério da Saúde como uma «afronta» e «desconsideração» para com as pessoas desta região. Isto porque se trata de uma medida que irá penalizar o desenvolvimento da cidade e da região e a consolidação da Faculdade de Medicina, contribuindo assim para a desertificação do interior do país. Por isso, a Câmara «não irá calar a sua voz na defesa da cidade», avisou, ameaçando tomar «outras medidas» caso se verifique o encerramento da maternidade local. É que para o autarca, não é com o encerramento de maternidades que o Governo vai poupar no Orçamento de Estado, mas nas «loucuras pseudo-modernas» como a construção do TGV, de aeroportos megalómanos ou a fazer «ensaios de S.A’s e de EPE’s cada vez que mudam os Governos». Para poupar, o Governo deveria era «estabilizar os quadros dos hospitais» para evitar a instabilidade que causam «custos elevadíssimos» ao cofre público. «O défice mais contundente no nosso país não é o do Orçamento de Estado. É o da ignorância que alguns governantes demonstram sobre a realidade de uma parte do país», disse numa crítica ao ministro da Saúde, Correia de Campos. O silêncio dos administradores do CHCB também não escapou à revolta de Carlos Pinto. «Se a teimosia do Governo persistir, faremos a leitura de que os administradores do CHCB não defenderam os interesses do hospital da cidade e da região por razões de conveniência partidária», apontou.

Região deve lutar pelas maternidades

O sindicalista Luís Garra dirigiu também um discurso violento à intenção do Governo, considerando-a como «um recuo» nos direitos conquistados há 30 anos com a revolução de Abril. Por isso, anunciou que a USCB irá estar «ao lado» de todas as manifestações públicas que surgirem contra o encerramento das três maternidades da região, pois o que está em causa é um «movimento cívico de defesa dos interesses das populações». «Por nossa vontade, nenhuma das três maternidades da região irá fechar», apontou, exortando as populações a saírem à rua pois a região «não se pode acomodar» face a uma medida que coloca em causa o futuro desta zona do país.

Ao longo da tarde, discursaram ainda jovens, covilhanenses e grávidas, contestando o eventual encerramento da maternidade. «Escolhi esta terra para viver e é aqui que quero que a minha filha nasça», disse Paula Leitão, uma grávida, que apelou à luta da população para manter o bloco de partos aberto. Já Dulce Corsino, uma jovem mãe, aderiu também ao protesto na companhia da sua filha pois «a maternidade não deve e nem pode fechar. Tem condições excelentes», referiu. Ribeiro Cristóvão, o deputado na Assembleia da República pelo PSD, também marcou presença na manifestação, assim como Henrique Dias, em representação da Câmara do Fundão, para quem o Governo terá que dar «uma resposta» sobre o assunto já no próximo domingo, quando inaugurar a Faculdade de Medicina. A Câmara da Covilhã vai também enviar cinco mil postais de protesto para a residência oficial do Primeiro-Ministro, muitos dos quais assinados durante a manifestação.

Liliana Correia

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