O coordenador do relatório que apurou as causas do fogo de Pedrógão Grande diz que «todos somos poucos» para fazer face ao problema dos incêndios.
«O Homem está no princípio, no meio e no fim de qualquer incêndio florestal». Quem o diz é Xavier Viegas, coordenador do relatório do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para apurar as causas do fogo de Pedrógão Grande, que esteve na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), na terça-feira, para falar sobre os estudos que tem feito sobre a matéria.
Em declarações aos jornalistas, o perito disse que as medidas implementadas são «poucas para aquilo que tem que se fazer, mas desde que sejam no sentido de dar mais proteção às pessoas e mais estrutura à nossa floresta, vão no bom caminho». Ainda assim, Xavier Viegas mostra «alguma apreensão» relativamente às mudanças estruturais que estão anunciadas: «Não pode ser uma simples mudança de nomes. Há transformações de fundo que têm que se fazer na qualificação, na escolha das pessoas e na articulação das várias entidades», defende o professor.
Sobre o incêndio de Pedrógão Grande, «a nossa convicção é que tenha sido causado por uma linha elétrica», disse. Já os fogos de 15 e 16 de outubro, «ainda não estudámos a fundo», mas muitas das ignições «foram causadas por pessoas» que fizeram queimadas: «Não quer dizer que as 300 ou 400 ignições tenham sido causadas pelas pessoas. Aliás, consta-nos que há pelo menos um incêndio causado por uma linha elétrica e muitas ignições terão sido causadas por projeções de outros incêndios», explicou o perito, para quem o facto destes episódios terem ocorrido num curto espaço de tempo foi uma «chamada de atenção».
Contudo, «é pena que tenha havido perda de vidas para que a sociedade se dê conta e tenha consciência», lamentou Xavier Viegas, reiterando que «não pode ser uma coisa de que as pessoas só se lembram no Verão». A mensagem que pretendeu passar foi simples: «Todos somos poucos para fazer face a este problema», sublinhou Xavier Viegas, que considera que há um quarto pilar no Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (SNDFCI), além do ICNF, GNR e ANPC, que é a população. «Aquela recomendação que está a ser feita pelo Governo para limpar em torno das casas parece-me fundamental. Não é tudo, mas é um contributo para salvaguardar a vida das pessoas e até dos combatentes», reforçou o professor, lembrando que por vezes os bombeiros não combatem o fogo na floresta «não é porque não saibam fazê-lo, mas sim porque não se consegue combater em determinadas circunstâncias» e a prioridade são «as pessoas e os bens».
Quanto à possibilidade destes fenómenos se repetirem, o perito não descarta essa hipótese: «Estes eventos vão tendo uma probabilidade cada vez maior de ocorrer e podem vir a repetir-se no futuro», alertou. «Não sei dizer quando», mas «temos que estar preparados para que, mesmo que essas condições ocorram, as consequências não sejam as mesmas», sublinha Xavier Viegas. E na Guarda, quais são os riscos e vulnerabilidades? «Está sujeita a riscos de deslizamentos de terras, devido às chuvas e ventos fortes. No âmbito dos riscos de índole tecnológica o distrito pode ser sujeito ao perigo de algum acidente rodoviário ou ferroviário, nomeadamente derramamento de produtos químicos», responde o perito.
Sara Guterres