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Poluição no Rio Noéme continua a preocupar

Juntas de Freguesia do Rochoso e Casal de Cinza promoveram passeio junto ao rio no domingo

Cerca de 70 pessoas de várias freguesias do concelho da Guarda participaram na manhã do último domingo num passeio pedestre com o objectivo de constatar “in loco” a poluição no Rio Noéme. Durante quase quatro horas, habitantes de várias gerações do Rochoso, Albardo, Vila Fernando, Vila Garcia, Casal de Cinza e São Miguel constataram que o rio não tem animais e que árvores, como os amieiros, começam a secar.

Joaquim Vargas, presidente da Junta do Rochoso, uma das promotoras da iniciativa conjuntamente com a sua congénere de Casal de Cinza, disse que o passeio destinou-se «a chamar, mais uma vez, a atenção para a poluição no Noéme» e mostrar aos participantes «os problemas do rio tem e verificarem que o que dizemos corresponde à realidade, que o rio está morto, que não tem peixes, rãs, nem cobras e, neste momento, são as árvores que começam a secar, principalmente os amieiros e os salgueiros». Depois de recordar que, na infância, ali bebeu água, o autarca lamentou que a poluição tenha vindo «a agravar-se cada vez mais nas duas últimas décadas». Para resolver o problema, Joaquim Vargas quer que «as entidades, principalmente os gerentes das fábricas, tomem consciência dos crimes ambientais que estão a cometer e que tentem, de alguma maneira, resolver a situação».

Além disso, espera que «as pessoas se apercebam de que estes crimes têm de ser punidos, pois em qualquer país desenvolvido isto é um crime público». Já o presidente da Junta de Casal de Cinza adiantou ter sido confrontado pelos habitantes da anexa da Gata de que «já vem alguma poluição da ETAR de São Miguel e depois junta-se ali uma descarga de uma empresa de lavagem de lãs que impede os agricultores de regarem as suas terras como fizeram durante anos e anos». José Rabaça garantiu ainda que há pessoas «que se queixam que alguns animais ficam doentes e morrem» e elogiou o «excelente trabalho» que tem sido feito pelo SEPNA (Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente) da GNR. No entanto, «as empresas são multadas, mas depois a multa compensa e a parte económica sobrepõe-se à da natureza», lamentou.

Outro dos participantes foi o presidente da Junta de São Miguel, que sublinhou a importância da ETAR na PLIE ser «concretizada» para que «tudo o que saia da estação de pré-tratamento desta unidade fabril possa ser encaminhado para a ETAR da PLIE e daí, obviamente, ser reintroduzido no rio». João Prata admite não ver outra solução que não seja «completar o projecto da PLIE com a construção da ETAR, para aí drenar tudo o que vem desta e de outras unidades fabris. Tenho a convicção de que esta empresa cumprirá as regras ambientais e terá a estação de tratamento a funcionar, mas nem sempre poderá conseguir resolver os problemas». Por sua vez, Bruno Almeida, dirigente do núcleo da Guarda da Quercus, salientou que «já se tentou fazer muita coisa, mas é preciso fazer muito mais ainda junto das entidades responsáveis».

Já Márcio Fonseca, dinamizador do blogue “Crónicas do Noéme”, vê o «arrastar desta situação com muita pena», considerando «lamentável que ao fim de tanto tempo este problema continue a verificar-se. É uma situação pública, um crime para o ambiente e para a saúde pública e é inadmissível num país que se diz civilizado». Residente em Vila Garcia, Maria Filomena Afonso, professora do 1º ciclo com um mestrado em Educação Ambiental, garante que «é quase um pesadelo viver nesta zona, onde vemos todos os dias a poluição».

Fábrica é «bode expiatório»

«Acho que todas as pessoas que nos têm apontado o dedo deviam informar-se melhor e ver efectivamente onde está o cerne da questão. Deviam talvez fazer uma sensibilização a toda a população da Guarda para ter cuidado com o que deitam na água». Pedro Tavares, administrador da Sociedade Têxtil Manuel Rodrigues Tavares, considera que a empresa está a ser um «bode expiatório» neste caso, garantindo que a carga da fábrica «é 100 por cento biológica e mineral», sendo composta por «terra e uma parte biológica». O empresário assegura que existem estudos que comprovam que, «passados três quilómetros, parte do nosso efluente deixou de ter influência no rio porque foi completamente decomposto». Para tal, contribui o facto de «tratarmos os efluentes e deitarmos para um colector camarário», relembrando que a Câmara ficou de construir uma estação elevatória.

«O projecto está feito, talvez estejam à espera de algum apoio do QREN para a fazer, acho que a vão fazer e têm todas as vantagens em fazê-la», considera. Pedro Tavares sublinha que, «às vezes, esquecemo-nos de que quando estamos a deitar o óleo de fritos na água, os detergentes todos que usamos, estamos a causar um dano irreparável no rio». No caso da fábrica, reitera que possui uma ETAR «que é vocacionada e extremamente moderna, temos sempre o mesmo tipo de efluente e mesmo assim sabemos às vezes os problemas que temos. Ter uma ETAR municipal onde todos os dias o efluente é completamente diferente não é fácil». Por isso, «as pessoas não podem querer milagres», refere, aconselhando «todos estes políticos» a organizarem uma campanha de sensibilização para a própria população, pois «é aí que se começa a limpar o rio».

Ricardo Cordeiro Dezenas de pessoas juntaram-se para chamar a atenção para o problema

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