As 148 casas de habitação social estavam concluídas, mas o diferendo entre a Câmara Municipal da Covilhã e o Benfica do Tortosendo impedia a sua entrega às famílias carenciadas. Passaram dias, meses, anos. Ao todo foram dois longos anos com as casas fechadas e as duas partes envolvidas num conflito.
Em Março deste ano fez-se luz: o clube tinha chegado a acordo com a construtora dos edifícios e tudo parecia caminhar no sentido de uma rápida solução para o caso. Mas passou Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto … e só em Setembro, já em plena pré-campanha, o assunto voltou aos jornais. Soube-se então que a Câmara tinha pedido ao Instituto Nacional de Habitação (INH) um documento que lhe permitiria entregar as chaves das casas aos futuros moradores, mas o referido documento não foi enviado à Câmara. Segundo o INH, faltaria uma autorização ministerial pelo que o assunto não estaria ainda sob a sua jurisdição. À primeira vista a resposta cheira a politiquice, mais parecendo que alguém tentou adiar a entrega das casas, mas enfim. Mesmo sem autorização, e correndo o risco de perder o financiamento do INH, a Câmara avançou para a cerimónia alegando que “o importante era entregar as chaves”. O que não deixa de ser curioso, pois a meio do mandato o assunto parecia tão irrelevante que se arrastou dois anos nos tribunais.
Em suma, as casas estiveram fechadas a degradar-se, mas isso não incomodou o presidente da Câmara. A entrega das chaves sem autorização do INH põe em risco a comparticipação daquele instituto, mas isso não tira o sono ao presidente. Afinal de contas, quem viveu mais dois anos em péssimas condições foram os futuros moradores e quem pagará a eventual factura da entrega antecipada das casas serão os munícipes. Para o presidente é igual: o que interessa é fazer inaugurações.
E sábado foi dia de inaugurar o Parkurbis. O primeiro-ministro, pouco disposto a abrilhantar a festa preparada por Carlos Pinto, declinou o convite da Câmara para apadrinhar a festa. Mas a cerimónia avançou, pois as eleições estão à porta. Com José Sócrates na festa talvez aparecessem as televisões, o que daria uma grande ajuda ao candidato Carlos Pinto. Mas os socialistas perceberam a manobra e o primeiro-ministro mostrou-se indisponível. A inauguração do Parkurbis acabou por não ter o mesmo destaque mediático que teve a abertura do Parque de Biotecnologia de Cantanhede – só para dar um exemplo recente – o que poderia atrair mais algumas empresas para este espaço. Ou seja, ficámos todos a perder por causa das politiquices.
Uma nota final para referir que a total disponibilidade de Carlos Pinto para inaugurações parece não ter paralelo nos debates entre candidatos à Câmara da Covilhã. O actual presidente da autarquia diz que apenas participará num debate e, por falta de entendimento entre duas rádios locais, acabou por faltar ao debate promovido pela Rádio Cova da Beira. E foi pena. Perdeu uma boa oportunidade para esclarecer muitas das suspeitas lançadas sobre a sua gestão e, sobretudo, deu mostras de uma total indisponibilidade para o debate de ideias, o que lhe fica mal.
Por: João Canavilhas