Importância rima com incompetência. Os temas de que o poder local se ocupa – recolha de lixo, iluminação pública, trânsito, estacionamento, mercados, obras ­ não são nada interessantes. Se resolvidos, não interessam ninguém; falhem, e as nossas vidas tornam-se um inferno. Só quando os canos rebentam, o trânsito excede o limite tolerável, o lixo se acumula, o pedido de obras fica na gaveta, o poder local adquire importância. E, meu Deus, como esta gente adora sentir-se importante! A fúria regulamentadora do poder local serve sobretudo para autarcas e funcionários se deliciarem a inventar e a exercer os seus poderzinhos sobre o desgraçado do cidadão comum e, dessa forma, infernizar-lhe sempre que possível a vida.
A Constituição portuguesa prevê a participação dos munícipes em certas reuniões das autarquias. Pelo que me dizem, os resultados são patéticos. Remetidas para o fim da tarde, agendadas após discussões nas quais o público não pode participar, olhadas de cima por quem tem o poder, aquelas sessões não têm qualquer conteúdo. As respostas às perguntas feitas pelos munícipes são dadas com ar enjoado, sendo os queixosos remetidos para os serviços cuja incompetência ou indiferença os tinham ali levado.
Dizem os teóricos do desenvolvimento que as autarquias devem ser o principal motor do desenvolvimento local. Devem atrair e facilitar o investimento, criando regras claras e simples e desburocratizando os processos. Tudo isto é muito bonito teoricamente falando. Na prática, só funcionaria se se inventassem outras autarquias e outros autarcas. E não é preciso ir muito longe para confirmar esta triste realidade: basta ter o azar de lidar com a câmara da Guarda.
Vá-se lá perceber porquê. A maioria dos indígenas detesta o senhor José Mourinho. Ainda por cima, treina o FCP e não o Benfica (só isso já explica muita coisa). Dizem que o homem é arrogante, vaidoso, etc., etc. Confundem arrogância com frontalidade. No fundo, o homem limita-se a expressar aquilo em que acredita e, pelos vistos, como os resultados demonstram, tem razão em acreditar no que acredita. Mas eu compreendo o desprezo indígena. Mourinho é competente, trabalhador, inteligente, talentoso. Numa palavra, é um grande treinador. Ora custa imenso ao português típico aceitar que alguém possa ter êxito por méritos próprios e à custa de muito trabalho. Não, isso não é, evidentemente, possível. Para nós, o sucesso só pode vir de coisas etéreas como a sorte, a corrupção (esta é pouco etérea, admito) ou o famoso sistema. O senhor Mourinho é um OVNI no futebol português e, por isso, vai ter que levantar voo.
Em contrapartida, o portuga adora o professor Carlos Queirós. Para mim, confesso, essa adoração é um mistério. Será que é por ele ser “professor”? Será que é por ele ser um perdedor nato? Só ganhou uma taça de Portugal pelo Sporting e dois mundiais de adolescentes. De resto, é fiasco atrás de fiasco. Deve ser por isso. Porque em termos de arrogância e má-criação o senhor professor deixa o Mourinho KO. Sim, repito, má-criação. Não é o facto de alguém usar fatos de bom corte que o transforma num senhor. Ora o “senhor” professor é, em bom português, um bronco. Só um bronco cospe em público na mão que lhe dá de comer. E é isso que ele tem feito sucessivamente por onde tem passado e é provavelmente esse discurso acusador e auto-desculpabilizante que o tem mantido à tona de água. Pelo menos, manha não lhe falta.
Por: José Carlos Alexandre