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Pois, Pois

NÃO SE PERCEBE. Há pouco tempo, e a propósito dos atrasos da Plataforma Logística, que não anda nem desanda, Joaquim Valente queixou-se, com toda a razão do mundo, do calvário burocrático da administração central. Infelizmente, a câmara da Guarda também não é exemplo para ninguém. Bem pelo contrário. Várias pessoas, algumas delas habituadas a lidar com muitas câmaras da região e do país, dizem-me que a da Guarda é, sem dúvida, uma das piores, senão a pior, que encontraram pela frente. As decisões demoram eternidades. Há sempre um tiranete disfarçado de técnico a pedir mais um papel qualquer, muitas vezes com o único intuito de infernizar a vida do cidadão e de exibir o seu poderzinho.

Esta monstruosidade administrativa, resultado da incompetência e das tais exibições de poderzinho de alguns funcionários, propicia a corrupção e dá cabo de qualquer veleidade de desenvolvimento para a região. Mexer e abanar este monstro de cima a baixo deve ser a prioridade número um do actual executivo. Dou um exemplo paradigmático. O atraso, para lá de todos os limites do razoável, da concessão de uma licença para o novo centro comercial Forúm Theatrum. É uma situação inaceitável. Senão vejamos.

Parece já ponto assente que a Delphi vai pôr na rua no próximo ano centenas e centenas de pessoas. Há mais serviços públicos em vias de serem retirados da Guarda – agora fala-se da Judiciária. A Plataforma não ata nem desata. Perante isto, a Câmara deveria, se houvesse algum senso no seu comportamento, estender uma passadeira vermelha a todas as pessoas interessadas em investir na Guarda e a criar empregos. Ainda por cima, neste caso concreto, trata-se de um centro comercial que vai requalificar parte do centro da cidade, que vai trazer vida a esta zona, que vai investir 37 milhões de euros e criar entre 600 a 700 postos de trabalho. Até Joaquim Valente afirmou repetidas vezes que este projecto é bom e importante para a cidade.

Injusta ou justamente, há quem associe este atraso à parceria da Câmara com a empresa TCN para a construção de outro centro comercial – o famigerado Guarda Mall – na actual área do mercado municipal e da central de camionagem e que foi chumbado pela CCDR de Coimbra por violar o PDM. Mesmo que uma coisa não tenha nada a ver com a outra, ficará sempre a pairar essa dúvida enquanto o Fórum não avançar, o que é demolidor para a imagem da Câmara e de Valente.

Este comportamento da Câmara é absolutamente danoso para a região e, por isso, não tem desculpa. Ou alguém é capaz de me explicar esta situação de impasse?

TMG À DERIVA. Leio boquiaberto uma entrevista do senhor Américo Rodrigues ao Terras da Beira, agora que o homem foi promovido a uma espécie de coordenador-geral, acumulando a direcção artística com a financeira. Às tantas, referindo-se ao descalabro financeiro do TMG, sai-se com esta frase fabulosa: “Não tenho nenhuma varinha de condão para resolver problemas que outras pessoas não resolveram durante tanto tempo”. Quer dizer, pelos vistos, o senhor nasceu ontem, não foi ele que programou, nem tem nada a ver com a contratação de cerca de 40 pessoas que ali trabalham e que, segundo ele, absorvem a quase totalidade do orçamento de mais de 500 mil euros dados pela Câmara. Também não lhe provoca nenhum sobressalto não ter preparação em economia. Aliás, o seu percurso e as suas declarações sempre evidenciaram desprezo pelos números e pelas contas – o que é respeitável. O que não se entende é que alguém com este perfil e esta atitude assuma este tipo de funções. A entrevista é esclarecedora a esse nível. Principal solução apontada para o actual problema financeiro? Muito simples. A Câmara e o Estado devem dar mais dinheiro, mesmo que não o tenham. Brilhante. Parece que nem lhe passa pela cabeça que a solução mais urgente é ajustar os custos de pessoal e das actividades ao dinheiro que há.

Por que razão tem de haver actividades todos os dias? Por que razão não se concessiona o café concerto a um privado? Por que razão não se acaba de uma vez por todas com a imoralidade dos convites? Por que razão são necessários mais de 40 empregados, quando, por exemplo, na Casa das Artes de Famalicão só lá trabalham 15 e aquilo é um sucesso – e tem um orçamento inferior ao do TMG. Estas são apenas algumas questões que qualquer pessoa com noções básicas de economia e gestão e, sobretudo, com bom senso colocaria de imediato. Até porque ninguém exige lucros, o que se exige é rigor na gestão dos dinheiros públicos e contas equilibradas.

E, já agora, ponha os olhos em exemplos como o de Paulo Brandão, que fez o que fez em Famalicão e agora no Teatro Circo em Braga promete fazer ainda mais. E sabem qual é o montante que a Câmara de Braga lhe vai atribuir por ano? 500 mil euros… precisamente.

Por: José Carlos Alexandre

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