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Pois, Pois

Uma boa notícia para a guarda.

Na primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior, a Escola Superior de Educação da Guarda (ESEG) obteve um excelente resultado. Uma taxa de ocupação de 78% das 245 vagas disponíveis. Um dos melhores resultados a nível nacional em termos de Escolas Superiores de Educação. Contra ventos e marés, a ESEG lá vai provando que ser do Interior não é necessariamente uma desgraça. Sem surpresa, a Escola Superior de Saúde encheu as 110 vagas para Enfermagem e Farmácia. Por seu lado, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão obteve um resultado que sem ser bom não envergonha ninguém. Com uma taxa de ocupação de 43%, consegue estancar e mesmo inverter a tendência descendente. Basta recordar que aqui ao lado as engenharias da UBI não foram além de uma taxa de ocupação de 16%.

Isto é bom para a Guarda. Se o IPG não é o coração da região, é, pelo menos, um dos seus pulmões. Se algum dia deixar de funcionar, a Guarda entra em colapso, quanto mais não seja porque deixariam de ser injectados todos os anos vários milhões de contos na região. É bom que as pessoas, e em especial os que têm responsabilidades de poder, percebam de uma vez por todas que o que é bom para o IPG é bom para a Guarda.

A URGENTE EDUCAÇÃO DOS INTELECTUAIS SUBDESENVOLVIDOS.

Como seria de esperar, o elogio que aqui fiz às festas da cidade provocou urticária àqueles que designei de intelectuais subdesenvolvidos.

Que dizem então as ditas luminárias? Concentro-me num ponto essencial: a indignação suscitada por eu ter questionado a competência e a legitimidade das nossas elites – refiro-me às classes dirigentes em termos políticos, económicos e culturais – para educar o gosto do povo. Vamos por partes.

Convém começar por recordar que, pelo menos desde o séc. XIX, Portugal tem sido, em geral, governado por elites medíocres que tomaram decisões desastrosas, a vários níveis, e que nos conduziram ao triste estado em que hoje estamos. Estas mesmas elites, que precisavam elas próprias de ser educadas, tiveram então a brilhante ideia de atirar as culpas para cima do povo. Seriam a mentalidade do povo e a sua suposta propensão para a boçalidade e a alienação – através do futebol, da religião, do fado e, mais recentemente, da pimbalhada – as principais causas do atraso do país. Enfim, as elites encontraram assim um belo “escape” para a sua incompetência.

Vale também a pena sublinhar que nos países ditos civilizados, com elites a sério, e após décadas de esmerado esforço em educar as massas, só uma pequena parte destas se mostrou entusiasmada pelos espectáculos de “alta cultura”. Mas, que eu saiba, não anda por aí nenhum intelectual alemão a dizer que a Alemanha é um país atrasado porque a maioria da sua população gosta muito de futebol, de cerveja, de cabaré ou de qualquer outro entretenimento “pimba”.

O melhor que se pode fazer – e quem me dera que isso se fizesse na Guarda, – é dar, em especial, aos mais jovens a oportunidade de conhecerem e terem acesso à chamada “alta cultura”, para que depois cada um possa, livremente, escolher as formas de cultura que lhe dão mais prazer, independentemente da aprovação ou não dos artistas de meia tigela e dos snobes insuportáveis que vêem e utilizam a cultura como forma de poder pessoal. Mais do que isso, ou seja, querer tutelar o gosto artístico das massas, ainda por cima sem nenhum mandato para o efeito e com o dinheiro dos contribuintes, é uma ambição totalitária, própria de cabeças estalinistas.

Não há povos melhores ou piores. Há elites competentes ou incompetentes. Desgraçadamente, a nossa é incompetente. Uma elite que critica e fustiga um povo por gostar de futebol ou de qualquer outro entretenimento de massas mais não faz do que exibir a sua própria flacidez. É por tudo isto que disse, e redigo, que este velhíssimo paleio de uma parte da elite portuguesa é, ele sim, um sinal e uma causa do atraso de Portugal.

A cultura mais não é de que um convite. A cultura, como o amor, não possui uma capacidade para obrigar. Mais do que tudo o resto, significa cortesia e respeito.

Por: José Carlos Alexandre

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