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Pois, Pois

ESPERANÇA VERSUS MUDANÇA. Como toda a gente já sabia há muito tempo, Cavaco Silva ganhou. À primeira. Ganhou um social-democrata assumido e convicto. Um neokeynesiano, que acredita nas virtudes do Estado Social e na importância do Estado como agente do desenvolvimento. Na Alemanha, na França ou na Inglaterra Cavaco seria considerado um homem de esquerda. Por cá, dizem que é de direita ou, se quiserem, de centro-direita. A esquerda marxista estabeleceu que só é de esquerda quem leu a vulgata marxista. Ora a social-democracia é uma invenção da esquerda. É uma síntese do liberalismo e do socialismo. Uma ideia interessante mas que, infelizmente, não tem condições para continuar a funcionar. O problema está estudado, mesmo em Portugal, onde por exemplo Medina Carreira tem sucessivamente alertado para a inviabilidade financeira do Estado social, cujas despesas com reformas, subsídios, saúde e educação crescem a um ritmo muito superior ao da riqueza produzida. Ironicamente, Portugal precisa de mais liberalismo económico se quiser ter no futuro um Estado social mínimo. O liberalismo económico é uma extensão do liberalismo filosófico que postula que o indivíduo tem a aspiração de dispor de uma autonomia tão ampla quanto possível e ser respeitado na sua dignidade na mesma medida em que respeita o próximo. Nessa medida, basicamente o liberalismo económico pretende dar ao mercado o máximo de espaço possível e aceita as regulações estatais na condição de estas representarem vantagens incontestáveis. É disso de que precisamos. À primeira vista, não é essa a ideia de Cavaco, considerado, na minha opinião justamente, por alguns como o pai do monstro.

Cavaco é o homem da esperança. Não é o homem da mudança – nem os seus poderes presidenciais lhe permitiriam tal desiderato. É um gestor, um bom gestor talvez, do que existe. Mas não é, nunca foi, um homem de rupturas. Basta ouvi-lo. Disse em campanha, por exemplo, que a lei laboral como está não é nenhum entrave à competitividade portuguesa. Que queria manter os centros de decisão nacionais em mãos portuguesas – não parece sequer ter aprendido com a sua experiência de Primeiro-ministro, em que os empresários portugueses mal puderam venderam com mais-valias as suas participações a estrangeiros.

Houve, todavia, uma frase sua que me entusiasmou. Os portugueses não devem ter medo da globalização. Apesar de tudo, Cavaco era o único dos candidatos que mostrava alguma permeabilidade à realidade. Esperemos que Cavaco, pragmaticamente, perceba que o barco para não ir ao fundo tem de mudar de rumo e que os portugueses percebam isso também.

ATÉ SEMPRE. O meu querido amigo Luís Baptista-Martins convidou-me a colaborar n’ O Interior desde o início. Faz agora seis anos. Tenho ao longo destes anos colaborado regularmente. Apesar de o Luís por vezes não concordar com as minhas opiniões, escrevi sempre o que bem me apeteceu. O Interior é, sempre foi, um espaço de liberdade. Infelizmente, por motivos pessoais, não posso manter a minha colaboração quinzenal. Passarei a escrever pontualmente. Espero voltar brevemente. Só me resta agradecer ao Luís e aos leitores que pacientemente me têm lido. Isto não é uma despedida. É apenas um até já.

Por: José Carlos Alexandre

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