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Pois, Pois

A QUESTÃO DE FUNDO. Do alto do seu snobismo, os comentadores nacionais ridicularizaram a torto e a direito os autarcas, reduzindo-os aos famigerados esquemas com a construção civil e o mundo do futebol e há estafada lengalenga da “obra feita”. Todavia, erra o alvo quem se limita a este exercício. O problema de fundo é o actual sistema político, que desresponsabiliza os autarcas e os transforma em máquinas de redistribuição de dinheiro, cujos méritos se medem pela inenarrável “obra feita” e pela capacidade de “meter cunhas” junto do governo.

O grosso do orçamento das autarquias vem do orçamento de Estado. Assim se compreende que ninguém tivesse ligado patavina à situação de endividamento crónico das autarquias e que os candidatos (sem excepção) continuassem a prometer com a maior das ligeirezas mais “obra”, independentemente da situação financeira. E assim se compreende que por esse país fora se encontrem pavilhões multiusos por todo o lado, piscinas às moscas, rotundas atrás de rotundas e, recentemente, a paranóia dos espaços culturais. A coisa funciona por modas e quase sempre não tem utilidade que se veja, tirando naturalmente a criação de empresas municipais destinadas a empregar os familiares e os amigos dos senhores do poder local.

É preciso mudar este sistema. E a mudança terá necessariamente de passar por mais recursos e, sobretudo, por mais responsabilização dos autarcas.

OS TRABALHOS DE VALENTE. Não vai ser fácil. Criou grandes expectativas nas pessoas. Em grande parte devido à sua putativa capacidade de “meter cunhas” ao nosso primeiro. Os guardenses, como é evidente, esperam ver o dinheiro a escorrer de Lisboa para aqui. Numa palavra, vão exigir, mais do que nunca, “obra feita”. E, no entanto, gostei da sua entrevista ao Interior da semana passada. Que nos diz Valente? Que quer começar por arrumar a casa, nomeadamente com o saneamento financeiro da câmara, cujas dívidas ultrapassam os oito milhões de contos. Requalificar o centro histórico. Atrair empresas e criar emprego. As prioridades estão bem definidas. Falta saber se vão ser bem executadas. Comecemos pelo princípio. Arrumar a casa é a base de tudo. Ou Valente mostra desde o início personalidade forte e que é capaz de cortar a direito ou então é engolido em três tempos pelo sistema. Não tenhamos ilusões. A coisa para ser bem feita vai ter de doer a alguns e Valente vai ter de ser duro. Se falhar aqui, falha em tudo o resto. Ele que contrate alguém de fora, algum especialista, como fez por exemplo Rui Rio, para pôr a casa nos eixos. Com a actual lentidão e ineficácia dos serviços não vai atrair empresa nenhuma digna desse nome. E sem empresas não há emprego. E sem emprego não há pessoas. E sem pessoas não há nada. Fica o deserto. Entretanto, era bom que conseguisse sacar uns dinheiros para acabar a Plataforma Logística, o polis e a VICEG. Sempre poderá dizer um dia que deixou “obra acabada”.

UM BOM EXEMPLO. Referi há semanas o exemplo lamentável do senhor Pedro Pires, que espatifou 300 mil contos num centro cultural em Gonçalo. Um exemplo de megalomania e completa irresponsabilidade na utilização do dinheiros públicos. Felizmente, também há bons exemplos. Um é Fernando Gonçalves, presidente da Junta do Alvendre, uma terra com cerca de 250 pessoas. Um exemplo de dedicação e amor à sua terra. Testemunho disso é o formidável centro de dia que construiu para, salvo erro, 20 idosos. Uma obra de persistência. São estas formiguinhas trabalhadoras e discretas que fazem esta terra avançar.

Por: José Carlos Alexandre

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