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Pois, Pois

A cultura da diferença Segundo a última edição d’ O Interior, Américo Rodrigues vai ser o futuro director artístico da futura sala de espectáculos da Guarda. Mais: vai ser o “coordenador geral” de todos os equipamentos culturais da Câmara (paço da cultura, mediateca, biblioteca e livraria municipal).

A primeira novidade era previsível. Por dois motivos. Primeiro, a Câmara, como é do domínio público, vive (e vai continuar a viver) momentos de agonia financeira e, por conseguinte, é impraticável arranjar alguém de renome para assumir essa tarefa. Segundo, goste-se ou não da figura, trata-se de alguém incontornável na vida cultural da Guarda. Além de poeta, dramaturgo, encenador e actor, tem uma vastíssima experiência na programação e realização de eventos culturais. Dadas as condições, esta solução parece-me, pois, bastante sensata.

Já a solução de ter alguém a coordenar os vários espaços culturais é, à primeira vista, pouco inteligente. O mais certo é que o invocado objectivo da “complementaridade” resulte numa grande salgalhada, com conflitos entre o vereador da Cultura, o Américo Rodrigues e os seus vários “subcoordenadores”. A ver, vamos.

Voltando à questão da sala de espectáculos. A tarefa de Américo Rodrigues não vai ser fácil. Presumo que ao aceitar o cargo tenha obtido um compromisso da senhora presidente em termos de financiamentos. É que o orçamento disponível para a cultura vai ter que aumentar substancialmente ou, caso contrário, a Câmara andou a investir até agora centenas de milhar de contos num elefante branco. Trazer grandes produções à Guarda (esse deve ser um dos objectivos) é caríssimo. E os apoios do Programa Operacional de Cultura e o do Instituto das Artes só cobrem uma parte dos custos.

Falta esclarecer ainda o pormenor do modelo de gestão da sala de espectáculos: empresa municipal ou fundação? Maria do Carmo vai desvendar o mistério na próxima reunião do executivo. Também aqui as duas soluções me parecem razoáveis (aliás, é o que se usa noutros lugares), embora a segunda seja preferível. Como é sabido, as empresas municipais são um esquema inventado pelos autarcas para escapar a alguns controlos públicos, para empregar amigos e familiares e em que os investimentos e prejuízos são assumidos pela autarquia e os lucros, quando os há, revertem para a parte privada. Uma alegria!

Os mais optimistas acreditam que este investimento na cultura vai colocar a Guarda no mapa. Talvez. Para isso acontecer, é necessário inventar qualquer coisa de original, que ninguém ainda tenha pensado em Portugal ou até (porque não?) no estrangeiro. Quando temos menos recursos do que os outros, só nos resta afirmarmo-nos pela diferença.

Qualidade de vida comparada. Houve quem não se mostrasse convencido com a classificação da Guarda em 23.º lugar no estudo do jornal Expresso sobre a qualidade de vida nos principais centros urbanos. É evidente que há sempre uma margem de subjectividade neste tipo de estudos. De qualquer maneira, este trabalho merece crédito. Foi realizado por uma entidade independente e o que interessa é que mais ponto menos ponto em cada um dos 15 itens considerados, a apreciação global de cada cidade não deve andar muito longe da realidade. Pelo menos, no caso da Guarda, estou convencido que não anda. Basta visitar cidades com situações geoeconómicas semelhantes à nossa, como Vila Real, Bragança ou Chaves, e verificar as diferenças. Desde os espaços pedonais, passando pela fluidez do trânsito e o estacionamento, até aos cuidados com o património, estamos, de facto, muitos pontos abaixo.

Por: José Carlos Alexandre

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