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Pois, Pois

SÓCRATES. O grande vencedor. Limitou-se a colher os votos da revolta contra a aberração que nos tem governado nos últimos tempos. Ninguém votou a pensar nas suas propostas vagas e, muito provavelmente, irrealizáveis. Não. O povo estava simplesmente farto do vexame de ter o senhor Santana como primeiro-ministro.

E agora? Maioria absoluta, responsabilidade absoluta. Há quem espere que Sócrates se revele uma espécie de Tony Blair. Mas Sócrates não é Blair. Não tem um centésimo da cultura política daquele. E ainda que tivesse, nunca poderia fazer o que Blair tem feito no Reino Unido. Portugal nunca teve um primeiro-ministro como Margareth Tatcher. Alguém com uma visão política clara da sociedade. Alguém que liberalizasse a sociedade. Que dissesse frontal e corajosamente que a iniciativa deve partir dos cidadãos e que o Estado só deve intervir em última instância. O melhor que tivemos foi Cavaco Silva. Um primeiro-ministro competente mas sem visão ou substância política – Sá Carneiro, o único que tinha de facto um projecto político, morreu cedo de mais. E é isso que no essencial separa Sócrates de Blair: em Portugal ainda ninguém se atreveu a fazer o trabalho duro. As reformas que se impõem ao país, e que passam basicamente por emagrecer um Estado em contínua expansão, vão contra a natureza do PS. Não acredito que Sócrates tenha coragem ou vontade de mudar o que quer que seja de essencial.

SANTANA. Impôs-se ao partido com a fama (absurda) de que era um especialista em ganhar eleições. Lembram-se? Mesmo após os meses desastrosos de governação, alguns acreditaram que em campanha se iria revelar finalmente o feroz “animal político” que havia dentro de si. Viu-se. A campanha foi um desastre, provando que os sucessivos episódios caricatos da sua governação não foram meros acidentes, mas sim a natureza do homem. Esta derrota histórica do PSD deve-se principalmente a si. Acreditou que a sua retórica balofa e os seus apelos ao coração dos portugueses chegavam para fazer esquecer a sua incompetência. Agora vai ser preciso tirá-lo da presidência do PSD a pontapé. A bem, como já se percebeu, ele não sai. Até na derrota mostrou a sua falta de estatura política.

PSD. Há quem pense que este grande partido corre o sério risco de se descaracterizar e, pior, de se fragmentar. É provável. O problema do PSD não passa apenas pela urgente remoção de Santana. Convém não esquecer que este foi ungido pela maioria dos dirigentes. E que se as coisas tivessem corrido melhor, estes estariam agora a seu lado. Correram mal e por isso toca a fugir. Não estou a ver como é que alguém poderá levantar o partido com dirigentes deste calibre. Depois, há ainda os “notáveis” que preferiram na sua maioria uma gestão do silêncio. Também não é com calculismos que o partido se pode regenerar. A coisa não vai ser fácil. Espero sinceramente que se encontre uma solução porque o PSD é um partido indispensável à democracia portuguesa.

UM RESULTADO EXEMPLAR. O PSD manteve os dois deputados pelo distrito da Guarda, mas baixou bastante a sua votação. Passou de 48, 5 por cento em 2002 para 34,6. A hecatombe é ainda maior se considerarmos apenas o concelho da Guarda. Passou de 42,5 por cento para 27,3 por cento. Ou seja, um resultado abaixo dos 28,7 por cento nacionais. A regeneração do partido deve começar por aqui: mudar as direcções de todas as distritais que obtiveram resultados como estes.

Por: José Carlos Alexandre

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