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Pois, Pois

O FUGITIVO, O INEPTO E O IRRESPONSÁVEL. Por incrível que pareça, a fuga vergonhosa de Barroso para Bruxelas passou para muita gente por “honrosa”. A degradação moral chegou a este ponto: qualquer outro faria o mesmo, dizem. Mentira. Por exemplo, o primeiro-ministro luxemburguês não aceitou o convite, obviamente por uma questão de respeito pelos luxemburgueses, pela democracia e por si próprio. Mas no mundo dos carreiristas (onde sempre viveu o senhor Barroso) os cargos políticos são vistos como meros trampolins para voos mais altos. Se fosse possível, estou convencido que o actual presidente da Comissão Europeia abandonaria sem hesitações o actual cargo para ser presidente dos EUA – e, claro, não faltaria quem visse nisso mais uma honra para o país e a para a Europa…. Ele que tinha jurado a pés juntos, poucas semanas antes da fuga, que, ao contrário de Guterres, nunca fugiria. Viu-se. Mas isto são águas passadas. O problema é que esta decisão criou uma crise política que se veio juntar à crise económica e, por consequência, agravá-la.

Sampaio nunca esteve à altura dos acontecimentos. Em vez de dizer imediatamente ao homem em fuga que dissolveria o parlamento, deixando-lhe desta forma a batata quente nas mãos, não, considerou-a “honrosa” e embrulhou-se num processo lamentável até à decisão de nomear Santana Lopes, com uma série de exigências estapafúrdias sobre a estabilidade governativa. Depois, dissolveu o parlamento sem demitir o governo e, coisa completamente anedótica, pediu a aprovação do Orçamento de Estado, o principal documento das políticas do governo, que, supostamente na sua opinião, não servem os interesses do país.

Os mais incautos pediram em Julho o benefício da dúvida para o novo Pedrito de Portugal. Dêem-lhe tempo, diziam. Ora era preciso ser muito surdo, mudo e cego para não prever facilmente os episódios desta triste história em que temos vivido nos últimos quatro meses. O Pedrito é a instabilidade em pessoa. O principal problema deste governo não são os ministros, é o primeiro-ministro. Nunca o desrespeito, a boçalidade, a confusão, a falta de sentido de Estado, a demagogia, a impreparação, a má-criação atingiram estes níveis em 30 anos de democracia. Se o homem tivesse qualidades de inteligência, sensatez e realismo, nunca teria deixado a câmara, onde as trapalhadas eram também já mais que muitas. Mas isso, obviamente, é não conhecer o personagem. O homem é só ambição, confusão e, para nossa desgraça, perdição – dele e nossa.

SCUT, UMA QUESTÃO DE SABER FAZER CONTAS. Como é sabido, em Portugal lê-se pouco e são poucos os que ainda sabem fazer contas. Este segundo aspecto é tão ou mais grave do que o primeiro. Um exemplo. Tem-se falado ultimamente muito nas SCUT – auto-estradas sem custo para o utilizador – , nas suas vantagens e inconvenientes, na sua justiça e injustiça. A ideia como se sabe é da autoria do socialista Cravinho e, supostamente, serviria para promover o interior marginalizado e ostracizado. Mas o argumento não resiste a uma conta muito simples, como demonstrou um economista na última edição do Expresso. Senão vejamos. Fala-se em 900 quilómetros de auto-estrada construídos ao abrigo destes contratos e de uma despesa anual do Estado de cerca de 700 milhões de euros durante os próximos 15 anos. Sabe-se que cada quilómetro de auto-estrada custa cerca de 1 milhão de euros. Ou seja, ao fim de dois anos o Estado já teria pago aos construtores um retorno do investimento um pouco acima do escandaloso. Mas a escandaleira não acabaria aqui, duraria ainda mais 13 anos!! Isto seria o mesmo que o Estado construir 10 estádios de futebol por ano até 2020. E há ainda quem tenha a lata (ou a ignorância) de chamar a esta pouca vergonha “solidariedade com o interior”. Não me lixem.

Este é apenas um dos muitos exemplos de como os nossos governantes desbaratam com a maior das impunidades o nosso rico dinheirinho. E tudo porque os portugueses não sabem fazer contas e, por consequência, não sabem pedir prestação de contas.

Por: José Carlos Alexandre

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