(com as devidas desculpas a Vinicius de Moraes, herdeiros e respectivos advogados)
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para comprar e fazer comprar
Para desembrulhar os nossos pacotes —
Por isso temos braços longos para os laçarotes
Mãos para escolher o que foi dado
Dedos para marcar o código.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a correr
Uma loja a apagar-se na treva
Um caminho entre dois shoppings —
Por isso precisamos estacionar,
Falar alto, pisar no pedal, ver
A noite dormir em silêncio
(depois de sedar as crianças).
Não há muito o que dizer,
não fosse o correio do leitor:
Uma canção sobre a ementa
Um verso, sempre desafinado
Uma prece pelo euro que se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos estômagos
Se queixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no arroz doce
Para a participação da molotoff
Para ver a face da mousse —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da mesa, apenas
Nos levantamos, imensamente (cheios).
Por: Nuno Amaral Jerónimo