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“Plano Turístico para a Serra da Estrela”

Crónica Política

É notório que o Turismo tem sido considerado uma estratégia de desenvolvimento económico e social pelos mais variados argumentos como sejam a construção de novas infra-estruturas, formação de recursos humanos, criação de emprego e, de modo geral, a geração de riqueza.

As instituições comunitárias consideram-no como um sector determinante para interagir com outras actividades económicas de modo a contribuir para um desenvolvimento sustentável.

Até meados dos anos 80 eram escassas ou praticamente nulas as referências à actividade turística nos planos e programas de desenvolvimento do interior do país. Ao longo da década de 90 a relação entre o Turismo e as regiões interiores tornou-se uma realidade e teve adesões dos mais variados quadrantes desde as instâncias comunitárias até à governação local. Porém, apesar deste interesse e adesão positivas, nem sempre as medidas tomadas foram verdadeiramente impulsionadoras de desenvolvimento.

É esta a minha preocupação!

No início do mês vimos noticiado, neste mesmo jornal, que uma equipa da Universidade da Beira Interior terá, dentro de um ano, medidas concretas para desenvolver o turismo da Serra da Estrela. Fiquei surpreendido quando li que esta equipa considera importante “tirar partido das vantagens da região e potenciar novos investimentos, como um parque de esqui de relva, para atrair novos públicos” como os EUA, a China e o Japão.

Do meu ponto de vista, a questão fundamental tem que passar, necessariamente, por aproveitar o espaço ecológico, patrimonial e cultural que a Serra tem, em vez de se criarem infra-estruturas artificiais, como campos de golfe ou a pista citada, para nichos de mercado tão específicos. É importante, do ponto de vista estratégico, que haja promoção empresarial e institucional, com critérios de qualidade, mas em simultâneo com a participação e envolvimento das gentes e recursos locais.

Esta equipa sustenta ainda a importância do uso da etiqueta “Serra da Estrela” em produtos e projectos. Parece-me uma ideia positiva mas penso que tal só será possível e admissível se, efectivamente, estiver ligada a algo próprio e identificável com a Serra da Estrela o que não é seguramente o caso dessas infra-estruturas.

A definição do público a atingir é importante mas parece-me desproporcionado que se pretenda atingir novos públicos sem antes, proporcionar qualidade e quantidade para o nosso mercado interno, mais próximo desta oferta e, também por isso, mais fácil de cativar. Estes países dispõem internamente desses recursos pelo que, a opção por oferecer-lhes o mesmo, em lugar de inovarmos e apresentarmos aquilo que nos identifica, não é plausível.

Assim, espero que esta equipa tenha em atenção alguns pontos fulcrais que não podem ser esquecidos e que são determinantes para o verdadeiro desenvolvimento turístico da Serra da Estrela.

Por: João Nuno Pinto

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