Uma operação desen-cadeada pela Polícia Judiciária da Guarda (PJ), que culminou com a detenção de sete pessoas por alegado tráfico de brasileiras, impediu recentemente que um novo grupo de mulheres viajasse para Portugal para trabalhar em “boites”. O coordenador do Departamento de Investigação Criminal (DIC) da PJ da Guarda, Leitão dos Reis, explicou que o grupo de detidos, de idades compreendidas entre 18 e 40 anos, negociava entre si e mantinha ligações com grupos de angariadores de mulheres no Brasil.
Actuava nos distritos de Guarda e Bragança, tendo as investigações policiais decorrido nas zonas de Covilhã, Gouveia, Pinhel, Vila flor, Carrazeda de Ansiães e Mogadouro. As «vítimas» eram angariadas naquele país a pretexto de virem trabalhar para Portugal em ocupações distintas de casas de diversão nocturna, referiu Leitão dos Reis. Os potenciais contratadores enviavam para o Brasil o dinheiro sob forma «codificada» para os «engajadores» a fim de custearem as passagens de avião, mas as mulheres acabavam por pagar pela viagem 2.500 euros, o triplo do custo do voo para Madrid, deslocando-se depois por via rodoviária para Portugal, explicou. Leitão dos Reis explicou ainda que, ao chegarem a Portugal, os «patrões» retiravam-lhes a documentação, colocavam-nas a trabalhar em “boites” e casas de alterne, limitavam-lhes os movimentos e a liberdade de circulação – por exemplo não podiam ir sozinhas ao cabeleireiro – viviam em situações por vezes degradantes e sub-humanas, sujeitas a represálias. Por isso os implicados foram detidos sob acusação de sequestro e lenocínio agravado. A forma de actuação do grupo de detidos é considerada «muito sofisticada» e prolonga-se já há algum tempo, tendo a PJ iniciado as investigações há cerca de meio ano.
O coordenador da PJ/Guarda disse que esta operação envolveu cerca de meia centena de efectivos do DIC da Guarda e da Directoria de Coimbra, que efectuaram seis buscas simultâneas a “boites” e residências, onde foram apreendidos bilhetes de avião e impressos de transferências bancárias para custear a deslocação das mulheres angariadas no Brasil com destino a Portugal. Os detidos, entre os quais uma mulher tida como “a patroa” neste processo, foram apresentados terça-feira aos juizes dos tribunais de Mêda, Lamego e Pinhel para primeiro interrogatório e aplicação das correspondentes medidas de coacção, desconhecendo-se à hora do fecho desta edição os seus termos.