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Pios escavados na Rocha

Nos Cantos do Património

Um dos vestígios mais comuns na Beira Interior corresponde às sepulturas escavadas na rocha, conhecidas pela população local como pios. Serviam como espaços de enterramento de comunidades humanas.

Embora muito se tenha escrito sobre a cronologia destas estações, actualmente com as escavações arqueológicas realizadas em território espanhol e nacional, destacando-se os trabalhos de Mário Barroca, é de comum acordo que estes exemplares são atribuídos à Alta Idade Média, com uma construção que remonta ao século VII até à segunda metade do século XII. Todavia, é possível que possam existir alguns casos mais tardios, sobretudo quando se encontram associados a edifícios religiosos, exibindo a mesma orientação.

A cronologia destes vestígios encontra-se também relacionada com a sua tipologia, isto é, apresentam diferentes plantas, desde as ovais e rectangulares, às antropomórficas. As primeiras serão as mais antigas, atingindo-se o antropomorfismo pleno apenas com o final do século IX, primeira metade do século X.

Existem diferentes distribuições destes vestígios pelo território, podendo ser divididos em três tipos de estações: isoladas, conjuntos de 2/3 sepulturas e as necrópoles.

O caso das sepulturas isoladas é atribuído por alguns autores a ermidas, que viviam isolados das comunidades. Todavia, algumas destas sepulturas surgem perto de outras estações, o que nos permite colocar algumas reservas quanto à sua funcionalidade. Por outro lado, os conjuntos de 2/3 sepulturas são atribuídos a núcleos familiares. As necrópoles apresentam, por norma, um número de sepulturas reduzido, ao contrário dos casos do outro lado da fronteira, onde as necrópoles apresentam elevado número.

Gostaríamos todavia de salientar que o número de sepulturas conhecidas é exíguo para a sua utilização durante um longo período temporal e certamente deveriam existir outras tipologias de enterramento. Possivelmente nem todos teriam possibilidades económicas para mandar construir estes sepulcros.

A construção destas sepulturas era feita por um pedreiro especializado, que usava ferramentas em ferro.

A referência, embora mais tardia, em documentos escritos a algumas aldeia localizadas nas proximidades destas estações arqueológicas, leva-nos a ponderar a hipótese da ocupação destas aldeias remontarem a este período.

Apesar de serem vestígios arqueológicos muito frequentes nesta área, o facto de raramente serem encontrados com uma estratigrafia segura, ou seja, o facto de encontrarem-se profundamente alterados, não nos permitem conhecermos melhor estes espaços de enterramento.

Todavia, como testemunho de antigas crenças e de percepção do espaço/território por parte de comunidades do I milénio, estes vestígios devem ser preservados no seu espaço natural.

Por: Vítor Pereira

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