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Pinharanda Gomes

Anotações

«Ao longo de décadas, Pinharanda Gomes foi e, felizmente, continua a ser, um dos mais prolixos hermeneutas da História e tradição do nosso pensamento filosófico. Investigador e sistematizador nato, jamais se deixou prender pelas etiquetas de historiador, ou de filósofo que também o é. Com a Universidade tantas vezes de costas voltadas para ele, jamais negou auxiliá-la, colaborando junto desta sempre que solicitado, revelando continuadamente os mais nobres valores associados a uma integridade ética e humana, definidora apenas dos grandes Mestres».

Palavras de José Almeida extraídas do texto “Para uma visão de Pinharanda Gomes sobre o Galaaz de Portugal”, que integra o conjunto de trabalhos inseridos no livro dedicado à obra e pensamento deste filósofo, ensaísta e investigador. “Pinharanda Gomes – A Obra e o pensamento, estudos e testemunhos” é a publicação, recentemente editada, que reúne as intervenções e testemunhos apresentados num colóquio promovido, em abril, pelo Grupo de Investigação “Raízes e Horizontes da Filosofia em Portugal”, do Gabinete de Filosofia Moderna e Contemporânea do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Como salientam os organizadores desta edição (Maria Celeste Natário, António Braz Teixeira e Renato Epifânio), no intróito deste livro, «a obra historiográfica de Pinharanda Gomes tem-se caracterizado pela seriedade intelectual, pelo rigor hermenêutico, pela lúcida compreensão reflexiva de obras, autores e correntes, pela clareza expositiva e qualidade literária, que fazem dela um marco essencial nos estudos contemporâneos da nossa história filosófica».

Pinharanda Gomes (natural de Quadrazais, Sabugal), figura incontornável da cultura portuguesa, comentava-nos há alguns anos que, literariamente falando, é natural da Guarda; embora realizado em Lisboa, como nos dizia, foi na cidade mais alta de Portugal que lançou as primeiras raízes.

Numa das suas muitas obras, Pinharanda Gomes escreveu que, «na esquina do tempo, e tendo saído da Guarda há muitos anos (parece que temos o destino da emigração) foi-nos concedida a graça de permanecermos fiel à mátria». Essa fidelidade tem sido constante, exemplar, de uma grandeza própria de personalidades de enorme saber e erudição mas simultaneamente simples, humanas e profundamente solidárias com a sua terra de origem. A sua presença, frequente, em iniciativas aqui realizadas ou as intervenções proferidas sobre temáticas e personalidades ligadas à nossa região comprovam isso mesmo.

Pinharanda Gomes «constitui, hoje, um exemplo vivo de um estudioso desinteressado, sem prebendas nem honras institucionais, fazendo do estudo erudito uma vocação de vida», como escreve Miguel Real num dos textos publicados na obra atrás referenciada. «Na Guarda – sublinha José Domingues, outro dos articulistas – se desenvolveu uma fase crucial da ascese do adolescente, despertado para a vida espiritual por um conjunto de mestres, que por mais de uma vez recordarão ao longo da vida (…)».

No conjunto vasto de títulos publicados por Pinharanda Gomes avultam três áreas: os contributos na História da Filosofia; as monografias da história da Igreja e os estudos regionais; ele tem-se afirmado um defensor convicto, e incansável, do nosso património histórico-cultural e outrossim dos valores humanos, mormente desta zona raiana. «Sentimos quanto é longo o dever de um homem dar contas públicas do muito ou do pouco que lhe foi possível realizar pela valorização do seu património, isto é, das coisas da sua terra natal».

Recorde-se que no Sabugal foi inaugurado, no passado ano, o Centro de Estudos Pinharanda Gomes. Neste Centro está reunido todo a acervo documental particular, que o autor doou à Câmara do Sabugal, bem como cerca de 3.500 opúsculos e volumes sobre temáticas diversas. Estamos perante um intelectual que honra o seu concelho, a Guarda, o país e todo o espaço da lusofonia. Será que a Guarda lhe tem dado a devida atenção, percebeu a sua grandeza e prestou a devida homenagem por tudo quanto ele tem feito, investigado e escrito?

Por: Hélder Sequeira

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