Joaquim Pina Moura, deputado pelo distrito da Guarda à Assembleia da República, não deverá assumir a presidência da futura “holding” da Iberdrola em Portugal antes do dia 3 de Julho, altura em que expira o prazo legal de eventual incompatibilidade de funções. Em declarações ao jornal “Público”, na última terça-feira, o antigo ministro da Economia e Finanças explicou que nesse dia fará três anos que deixou a pasta das Finanças, passando assim a estar “livre” da lei das incompatibilidades de cargos públicos.
Pina Moura afirmou àquele diário realizar uma «leitura abrangente» de uma disposição legal que impede antigos governantes de integrarem conselhos de administração de empresas que passaram por processos de privatização. A Iberdrola é operadora-líder em Espanha e uma das principais a nível internacional em energias limpas, tendo-se tornado accionista da EDP, numa das fases de privatização, detendo actualmente cinco por cento do respectivo capital, posição que tenciona manter, numa perspectiva «financeira». Em relação ao actual cargo de deputado, Pina Moura deverá continuar a ocupá-lo, já que considera não existirem incompatibilidades na ligação empresarial à vida política. A futura empresa concentrará os negócios da Iberdrola em Portugal, com primazia para os investimentos em energia eólica onde se destaca o distrito da Guarda. Entre 2005 e 2008, período em que Pina Moura ocupará o cargo de presidente, a Iberdrola, que anunciou recentemente a compra à também espanhola Gamesa de um parque eólico instalado a Norte de Lisboa, tenciona investir 1.500 milhões de euros no mercado português. De igual modo, a empresa continua interessada em investir na próxima central de ciclo combinado a gás natural «sozinha ou com parceiros», revela.
Uma vez que já é comercializadora de energia eléctrica para a parte liberalizada do mercado nacional, a partir de Julho, a Iberdrola quer aumentar o negócio para os clientes domésticos, que poderão escolher o seu fornecedor a partir desse mês. No âmbito da reestruturação do sector energético nacional, a Iberdrola trocou os quatro por cento que detinha na Galpenergia por 58,8 por cento na Beiragás, concessionária do fornecimento de gás natural na Beira, e 40,9 por cento na Tagusgás, encaixando ainda uma parte em dinheiro. A empresa anunciou recentemente a vontade de investir 2,4 mil milhões de euros nos próximos quatro anos em energias renováveis. Os analistas do país vizinho vêm a contratação do antigo ministro socialista como uma «excelente opção», isto porque conhece bem a realidade portuguesa, mas também porque pode projectar uma nova imagem para a Iberdrola, a de um técnico e político que não desconhece os efeitos que a presença da eléctrica espanhola na EDP e Galp provocou em Portugal.