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Philip Capote Hoffman

Corta!

É o actor mais badalado do momento. Já o era antes de ter ganho o Óscar de Melhor Actor (merecidamente!), na cerimónia do passado fim-de-semana, mas a estatueta dourada coloca um ponto final na enorme lista de prémios ganhos por Philip Seymour Hoffman, com a sua interpretação em Capote, onde faz o papel do escritor norte-americano Truman Capote. Um papel a todos os níveis impressionante, não se limitando Hoffman a um trabalho de mimetismo de todos os tiques de Capote (o que consegue na perfeição), mas acrescentando algo mais que nunca se consegue definir ao certo o que seja, mas nos deixa do primeiro ao último minuto absolutamente conquistados e siderados.

Mas Capote não vive apenas e só da interpretação de Hoffman. Todos os actores se encontram aqui no seu melhor, com destaque para Catherine Keener (quase irreconhecível, tal a forma como ela conseguiu esconder todo o seu lado mais galã e sedutor) e Clifton Collins Jr., no papel do assassino Perry Smith. Pela direcção de actores, o realizador Bennett Miller, que se estreia com este filme, já mereceria nota positiva. Muito positiva. Mas a tudo isto, Miller acrescenta ainda um rigoroso trabalho de composição e ritmo. Um ritmo que muitos considerarão demasiado lento, quase a fazer lembrar algum cinema europeu (os mais cépticos em relação ao cinema feito no nosso Continente não se assustem já), mas que serve em absoluto a narração do filme.

Este Capote, tal como já acontecia com o biopic dedicado a Johnny Cash – Walk The Line – de que falámos aqui na semana passada, não retrata toda a vida de Truman Capote. Embora se fique a saber um pouco de todos os momentos mais importantes da sua vida. Os anos aqui mostrados correspondem ao tempo de preparação do seu último livro, In Cold Blood. Livro que o próprio Capote considerou o melhor romance não ficcional de sempre, chegando mesmo ao cúmulo do seu narcisismo ao considerar ser este o primeiro livro desse género (um misto de reportagem e ficção).

Este seu livro, que acabou mesmo por ser o seu último, descreve os crimes cometidos por Perry Smith e Richard Hickock. Estes, numa terriola longe de tudo, numa certa noite, matam toda uma família. Capote, depois de ler a notícia destes assassínios num jornal, decide conhecer pessoalmente os assassinos. Só assim poderia ficar a saber o que se tinha passado naquela noite, e o que teria levado a que duas pessoas tivessem cometido tal acto. Capote, nas suas obsessões, onde o narcisismo era apenas uma gota num enorme oceano, deparou-se com o problema de desejar a morte daqueles a quem tirou tudo, por ser essa a única possibilidade que ele tinha de acabar o seu livro. A arte não deve conhecer limites? E para a ela se chegar, que limites existem? São estas as principais perguntas que Capote coloca. Perguntas nada fáceis de responder, num filme de leituras nada superficiais ou simplistas. Em duas palavras: filme obrigatório.

Por: Hugo Sousa

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