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PETUR sem consenso regional

Conclusões do Plano Estratégico de Turismo acentuam rivalidades entre os dois lados da Serra da Estrela

Os municípios da Serra da Estrela continuam de costas voltadas quanto ao aproveitamento do potencial turístico da zona. Esta realidade não consta das conclusões do Plano Estratégico de Turismo (PETUR) para a serra, cujo documento final foi apresentado em Manteigas, mas ficou óbvia na sessão da passada quinta-feira. A união e a complementaridade entre os dois lados da Estrela continua longe de se concretizar, a tal ponto que Pedro Guedes de Carvalho, coordenador do estudo, reclamou ironicamente «um Scolari para o turismo».

Indiferentes a este apelo a «alguém que una o grupo e motive os intervenientes» estiveram os poucos autarcas presentes. Tudo por causa das acessibilidades. O presidente da Câmara de Seia admitiu ter ficado «chateado» quando ouviu falar que as auto-estradas A23 e A25 eram suficientes para o turismo na Estrela, para além da recuperação dos túneis. «É um erro estratégico, porque não é possível pensar o desenvolvimento deste sector na região sem a conclusão do IC6, IC7 ou o IC37», sustentou Eduardo Brito, reclamando para Seia «o mesmo direito que os outros no acesso à A25». Nesse sentido, lamentou que o PETUR continue a «dar primazia ao outro lado da serra e ignore os restantes concelhos». Uma crítica que o edil acentuou ao afirmar que o plano elaborado pela Universidade da Beira Interior (UBI) «parece mais uma encomenda». Contudo, também há descontentamento do outro lado da serra. João Esgalhado apontou a «menorização» do projecto do aeroporto regional previsto para a Covilhã, mas também a ausência de qualquer referência à Zona de Jogo da Serra da Estrela. «O projecto do casino deve ser promovido por todos os concelhos, porque é estimulador de outros investimentos», reclamou o vice-presidente da autarquia covilhanense, admitindo, por isso, que o município não partilha da «globalidade» das conclusões do estudo.

Para José Manuel Biscaia, o problema pode ser outro. É que os 10 municípios envolvidos integram diferentes NUT’s de nível 3, as estruturas territoriais que vão nortear a atribuição de apoios nacionais e comunitários no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN). Mas sempre vai dizendo que é altura de acabar com os «egoísmos e individualismos» dos municípios. Quanto ao resto, considera que a Serra da Estrela já é uma «marca nacional e internacional» do ponto de vista turístico, faltando apenas concretizar as formas de investimento sugeridas pelo PETUR. «Isto não é a solução para a Serra da Estrela, mas um pontapé de saída», clarificou Pedro Guedes de Carvalho, perante o documento final que levou dois anos a ficar pronto. Diante de uma plateia onde prontificaram representantes do Instituto de Turismo de Portugal, Parque Natural da Serra da Estrela, AIBT, Região de Turismo e empresários da hotelaria e restauração da região, o professor de Economia lembrou que «competir por investimentos será o nosso fim enquanto destino turístico». Mas o coordenador está esperançado na criação de um Plano Operacional de Turismo na região Centro, para «melhor aproveitar» o próximo Quadro Comunitário de Apoio (QCA). Por outro lado, defendeu que a concretização dos túneis irá permitir «maior mobilidade intra-regional», uma das lacunas apontadas pelo estudo.

Junta Regional de Turismo

Pedro Guedes de Carvalho espera que as conclusões do PETUR venham a ser concretizadas, apesar do aparente desinteresse dos autarcas, que primaram pela ausência na reunião de Manteigas. Algumas das medidas propostas passam pela criação de uma Junta Regional de Turismo, responsável pela definição da política regional para o sector, do Observatório Regional de Turismo, de grupos de trabalho temáticos e de uma Central de Reservas. A equipa PETUR sugere também a implementação de um turismo de Natureza e montanha, mas também de expedição, descoberta, ambiente, cultural, saúde, cientifico e alternativo à praia e ao sol no Verão. Bem como

«mais e melhor alojamento», a requalificação da restauração e cozinha tradicional, uma imagem “Serra da Estrela” para todos os postos de turismo, sinalética eficaz e atractiva e a criação de equipamentos de entretenimento, desporto e cultura, entre outras medidas. O estudo foi encomedado pelos municípios que integram a Acção Integrada de Base Territorial (AIBT) da Serra da Estrela (Manteigas, Seia, Covilhã, Oliveira do Hospital, Belmonte, Celorico da Beira, Guarda, Fornos de Algodres, Gouveia, Aguiar da Beira e Trancoso).

Luis Martins

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