Desde 14 de Setembro que, todas as manhãs, os idosos de pelo menos dois lares ou centros de dia do concelho da Guarda estão ligados no “Messenger”, com excepção dos fins-de-semana. Juntam-se em frente a um PC, para chamadas de vídeo através daquele programa, e fazem amigos na “web”, que só irão conhecer pessoalmente no fim do projecto “O meu amigo virtual”, promovido pelo Espaço Internet da Guarda. Esta iniciativa da autarquia passou, na última sexta-feira, pelo lar de Pêga, uma das 10 instituições envolvidas.
«Vamos falar hoje com o lar de Adão?», perguntou logo que entrou na sala Maria dos Santos, de 75 anos, para depois explicar que antes de Pêga esteve um ano naquela instituição da localidade vizinha onde deixou «muitas amigas» com quem gostaria de conversar. Mas, na última sexta-feira, a sessão era com Aldeia do Bispo. «Tentaremos Adão na segunda-feira», prometeu Laura Fernandim, monitora do Espaço Internet. Maria dos Santos é dos poucos “alunos” de Pêga que já teve algum contacto com o “Messenger”. O primeiro aconteceu noutra iniciativa do Espaço Internet, o “Informática para Todos”, que decorreu no último semestre do ano passado – e implicava a deslocação dos idosos àquele espaço, o que fez com que nem todos tivessem participado devido à falta de motivação de alguns e à pouca mobilidade de outros. Desta vez, dos 17 utentes do lar e centro de dia de Pêga, apenas seis participaram.
«Eu ainda não sei pôr as coisas a funcionar, mas sei que isto me dava jeito para falar com os meus dois filhos e três netos que tenho na Suíça», explicou Maria dos Santos. «Isto é melhor do que o telefone, porque se podem ver as caras das pessoas», reagiu, por sua vez, José Luís Leitão, que só agora começa a conhecer as potencialidades do “Messenger”. «Gostava de acompanhar o crescimento dos netinhos que estão em França» através do programa, acrescentou o idoso. O objectivo de “O meu amigo virtual” aproxima-se das aspirações de Maria dos Santos e José Luís Leitão: iniciar os idosos no “Messenger” para que depois ganhem alguma independência no mundo da “web” e contactem com familiares e amigos – ainda que tenham que necessitar de alguém para lhes ligar o computador e estabelecer a chamada de vídeo. São realizadas três sessões em cada uma das 10 instituições participantes e nenhuma ligação se repete. Ou seja, Pêga não voltará a contactar Aldeia do Bispo.
O ritual é igual em todas as sessões: os idosos das duas instituições ligadas apresentam-se à vez aos amigos virtuais, enquanto os monitores seguram na “webcam” e os auscultadores com microfone vão rodando, de mão em mão. Vêm depois as conversas, perguntas que se sucedem lá e cá e, «por vezes, até se trocam piropos», refere Laura Fernandim. Todos acabam, de alguma forma, por comunicar com o grupo que está do outro lado. No caso de Pêga, as ligações não tiveram grande sucesso e não geraram grandes conversas porque «a Internet (móvel) está sempre a cair, ao que parece devido aos incêndios», lamenta esta responsável, que tem incentivado os idosos a pedirem à administração do lar a instalação de um serviço de Internet fixa no edifício. «A Câmara da Guarda ofereceu computadores aos centros de dia e lares do concelho com o objectivo das administrações instalarem Internet, mas aqui isso não foi feito», constata.
Por isso, foi a própria monitora que a trouxe, graças ao sistema móvel, para a actividade, para que Pêga não ficasse excluída do programa. Na mesma situação estão Videmonte, Pêra do Moço e Famalicão. No primeiro caso, «só ainda não há net porque estão com problemas de linha», esclarece Laura Fernandim. No total, “O meu amigo virtual”, que termina no final do mês, envolve quase 200 idosos. Neste projecto estão ainda instituições das freguesias de Famalicão da Serra, Fernão Joanes (em conjunto com Videmonte), Guarda (lar de S. João de Deus), Maçaínhas, Marmeleiro e Santana da Azinha. No final, todos os participantes vão conhecer-se pessoalmente durante um convívio.
