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Período crítico de fogos na serra ainda está para vir

Turismo ambiental e paisagístico em risco caso planos de prevenção e reflorestação continuem a não funcionar, garante presidente da RTSE

Numa altura em que os fogos não dão descanso aos “soldados da paz”, o director do Parque Natural da Serra da Estrela, Fernando Matos, mostra-se preocupado com o que ainda está para acontecer, visto ser no «final de Agosto, princípios de Setembro» que os incêndios mais devoram a paisagem do parque, tornando-se «impossível fazer planos de reflorestação neste momento».

Com a altura mais crítica ainda por acontecer, o director do PNSE vê-se de “mãos atadas”, pois o parque «não possui um único hectare próprio». A maioria dos terrenos pertence a privados e o sobrante é da responsabilidade da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI), situação que gera uma gestão ambiental «complicada», podendo o parque «apenas propor algumas medidas a tomar, mas nenhuma a nível prático». A «solução» passa por uma organização de meios num «programa específico onde as partes interessadas ajam de forma integrada», explica ainda. Referindo-se aos cerca de 4.700 hectares enegrecidos pelos incêndios na serra, Jorge Patrão, presidente da Região Turismo da Serra da Estrela, é mais contundente nas críticas ao alertar para a questão dos financiamentos estatais. «Gostava de saber onde estão investidos os milhões de contos de que tanto se fala», refere, recordando a reunião que há um ano atrás juntou a DRABI, PNSE e RTSE, onde esta alertou para a necessidade de se elaborar «uma campanha pela positiva» sobre o impacto e importância da reflorestação, de forma a prevenir os incêndios. Mas é neste ponto que surge o desacordo entre as entidades. O director do parque natural considera prioritária a protecção dos matos e turfeiras com espécies em vias de extinção, pois «tem que se que pensar em monitorizar e ordenar para depois reflorestar». Já Jorge Patrão defende um plano anual de prevenção e uma aposta na replantação das espécies arborizadas tradicionais da região para evitar a proliferação de «cancros florestais» ilegais, como os eucaliptais.

Só a última hipótese é válida para a RTSE, uma vez que o turismo de impacto ambiental e paisagístico «só sobrevive» se a área ardida «diminuir» e se os referidos milhões de contos forem «visivelmente» investidos. Para manter os turistas interessados, este organismo tem apostado numa «melhoria acentuada» em questões de alojamento e diversão, como o uso das pistas sintéticas de ski e dos campos de golfe. Mas Jorge Patrão frisa ainda que se a região da Serra da Estrela continuar anualmente a sofrer incêndios de grandes proporções «não conseguimos defender o turismo ambiental». Perante a situação de «catástrofe», Fernando Matos já terá ouvido falar na criação de um gabinete responsável pela elaboração de estudos e projectos de prevenção, com o apoio da DRABI e dos Ministérios da Agricultura e Ambiente, mas ainda não teve nenhum contacto oficial. Apesar da insistência de “O Interior”, os responsáveis da DRABI recusaram-se a prestar declarações, remetendo para um comunicado disponível em Castelo Branco.

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