1. António José Seguro sente-se em casa na Guarda. O secretário-geral do PS veio à cidade para apadrinhar a abertura da sede distrital requalificada, depois de um período de obras que há muito os militantes reclamavam, mas o mais relevante nesta altura de campanha interna é juntar as hostes e assegurar o maior número possível de apoiantes no distrito.
A disputa com António Costa para nomeação de «candidato a primeiro-ministro» já vai longa e Seguro sabe que é o seu adversário quem mais desgaste evidencia – Costa não consegue afirmar a diferença, o seu projeto para o país continua sem convencer e a campanha longa fragiliza-o. Se há dois meses parecia evidente que o presidente da Câmara de Lisboa tinha excelentes condições para liderar o próximo governo da nação, hoje, os portugueses têm dúvidas que o seu projeto e orientação sejam a alternativa: as promessas de Costa são similares às de António J. Seguro e em relação à crise financeira não apresenta nenhuma proposta. Pior, à sua volta encontramos cada vez mais o bafio do velho PS, a «tralha» socrática de má memória para o país, além dos históricos. Ou seja, o bom currículo, a excelente imagem, a qualidade intrínseca de Costa vai soçobrando pelo tempo longo de exposição e pelas companhias – diz-se que até Joaquim Valente fará parte da “equipa” de Costa: cruzes, canhoto! Seguro volta a sorrir.
2. A Guarda não é propriamente uma cidade de pasteleiros e doces, mas isso não significa que, por cá, não haja quem saiba amassar ou adocicar. De resto, o arroz doce e o leite-creme, “o autêntico”, são ancestralmente sobremesas da tradicional mesa beirã.
Álvaro Amaro percebeu que é pela boca (ou pela barriga) que se podem agarrar os forasteiros. À falta de um festival gastronómico (prometido) que suceda aos concursos que durante anos iam animando a Guarda e os amantes da boa mesa (até isso o executivo de Valente deixou morrer…), a Câmara da Guarda promoveu a elaboração de um «bolo da Guarda» como marca distinta da pastelaria guardense. Os pasteleiros aderiram e com engenho amassaram e adocicaram excelentes espécimes, mas só um podia ganhar o epíteto de «bolo da Guarda», postulado com o nome (feliz) de D. Sancho. E bem!
Por não termos dúvidas que a barriga vai apreciar os “sanchitos” que a Sandra Almeida amassou, sentámo-nos à mesa com o enólogo Rodolfo Queirós para provar os vinhos da região que melhor combinam com o bolo. Com surpresa, o espumante “Sou do Alto” (Beira Serra) frio, feito com método clássico (nove meses) e que se apresenta com um rótulo pobre mas com uma garrafa que antecipa a excelência e categoria do néctar, casa de forma soberba com o olor intenso e a massa folhada e doce de ovos do D. Sancho – para quem não saiba, este espumante é produzido essencialmente com uvas das poucas vinhas (dignas desse nome) do concelho da Guarda: as das encostas de Avelãs da Ribeira. E também sugerimos o Pinhel Síria branco e o Quinta dos Termos Fonte Cal (a “nossa” casta) também branco, porque o «bolo da Guarda» “pede” brancos, frescos e com aroma (como o Síria) ou encorpados (como o Fonte Cal) para equilibrarem e permitirem uma degustação de excelente paladar.
O presidente da Câmara da Guarda também recorreu à gastronomia em Gouveia, onde tentou a “sorte” com bolos (o “Estrela” – que não resultou) e apoiou o festival de sopas, mas a Guarda tem outra dimensão que pode representar um pequeno sucesso gastronómico a juntar à morcela, ao cabrito, à bola da Guarda e a tantos outros pratos que é urgente refazer e temperar com novas dinâmicas.
Luis Baptista-Martins