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Pedro Simões de Carvalho

Bilhete Postal

O Pedro é do Luso e conta histórias sumarentas, transportando-nos ao universo dos amigos, carregando o respeito pelas convicções sem abrandar as certezas de cada um. Os amigos engalfinham-se mas estão lá por convicção. São dias marcados onde os almoços são partilha de emoções, de ideias e de conhecimentos. O Pedro acredita nos humanos e encontra-lhes virtudes. Ele diz bem de muita gente e sendo português também diz mal de alguns, mas pouco. Para ele todos são credores de simpatia. Ele acha que há reconhecimento, que há confiança. Por tudo isso ele pede por quem não conhece, move o mar para passar o amigo de alguém que já mal vislumbra. O Pedro acredita que se o procuram, carecem. Se precisam e pedem, devem ser ajudados. Não vê os que o usam para saltar uma fila, não antecipa os que abusam da sua bondade, não antecipa o traidor. Pedro é mais Pedro que o de Jesus e desse modo prega uma doutrina da dádiva e da partilha. Ele oferece o seu tempo, empresta a sua lista de contactos, disponibiliza os outros a quem pede por quem não conhece. Os favores não se gastam – pensa. Os amigos estendem-se numa rede em que acredita. Já o vi chocado pelo não. Disse-me que não! Não me ligou nenhuma! Aqui tem a graça da vaidade. Recusaram-lhe um favor, ao Pedro que tantos jeitos fez! Não está a cobrar, está indignado pela falta de solidariedade. O meu amigo do Luso adora o convívio com pessoas e animais, o passeio da caça, a conversa sobre as flores, a observação dos pássaros, escutar o canto dos que cantam. Explicará com detalhe que uns assobiam, outros chilreiam e poucos são dignos do canto. Falará dos poucos coices que deu, quando ofendido arqueou as da frente e soltou as de trás. Eu admiro-o muito pela facilidade da palavra, a convicção do discurso, a firmeza do aprendido, a coerência e eloquência da exposição. Ele é um privilégio nas nossas vidas e foi uma sorte poder trabalhar com aquele mestre durante tanto tempo. Na minha vida gosto de mimar os que quero bem vivos. O Pedro esteve doente mas ressuscitou imenso, como sempre. Tive algum receio, não nego, mas as águas de Luso subiram o monte e jorram agora das fontes. A vida retoma a sua forma perfeita.

Por: Diogo Cabrita

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