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Pedra no sapato

Bilhete Postal

Brinca com a pedra. Brinca com o sapato. A pedra no sapato já não é de brincar. Brincas com o assunto, dissecas o tema, descobres matizes, de modo obsessivo penetras as alíneas e dissolves na crítica a matéria. Agora há quem te olhe de lado, há quem te coloque desagrado, há quem te afaste. Estás dentro do tema e ele não era de mais ninguém. Desde que é teu também, ficas desagradável e megera. A pesquisa é desde logo uma afronta para quem se apropria. A observação é uma ofensa para quem quer impunidade. A avaliação é um problema para todos os que se apropriam e dominam. Claro que total transparência é pornografia, sexo no vão de escada é provocação, vasculharem-me as contas sem motivo é coisa de polícia. Mas as realidades são todas deste modo complexo. Uns fazem umas bombásticas afirmações, outros decidem umas iconográficas obras, outros criam jogos de arruinar terceiros e quando chegam os fiscais aqui d’el Rei que me estão a tramar. Esta presunção de bondade que temos de nós quando na posse do poder é uma fascinante característica humana. Acredito que todos decidam por estarem plenamente convictos da importância e da necessidade do que estão a fazer. Quando chega a crítica reagem quase sempre mal e depois são sempre vítimas dos nocivos objetivos dos outros e nunca do incumprimento do diálogo e da justeza da lei. A pedra no sapato dói, não deixa brincar.

Por: Diogo Cabrita

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