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Pedida falência da Gartêxtil

PCP exige apuramento de todas as responsabilidades naquilo que apelidam de «crime» contra a economia da região e os trabalhadores

Duas trabalhadoras da Gartêxtil, na Guarda, vão pedir a falência da empresa têxtil nos próximos dias, depois de ficar concluído o processo de rescisão e apuramento de créditos da fábrica. A decisão foi tomada por unanimidade no último plenário das funcionárias da empresa de confecções, realizado a 26 de Maio. «O processo já está concluído e vão apenas duas trabalhadoras porque não são necessárias mais. Basta apenas um pedido de falência de um credor para que o processo tenha início», salientou Carlos João, dirigente do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA).

No total, aos trabalhadores são devidos cerca de um milhão de euros, a que se associam outros valores acumulados por indemnizações. «A partir de hoje, o distrito da Guarda está mais pobre», considerou Carlos João, salientando que os 170 operários da fábrica já rescindiram e lamentando, mais uma vez, a «falta de vontade» do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) e do Governo na viabilização da fábrica. «O que está a acontecer na Gartêxtil é o que está a acontecer em todo o país. Com a destruição da indústria, Portugal vai passar a ser um país para os estrangeiros virem cá passar férias», sublinhou o sindicalista. Entretanto, as trabalhadoras não tencionam desistir de apurar o que se passou na empresa para que tenha fechado ao fim de quatro anos após injecção de 370 mil contos de apoios, atribuídos pelo IAPMEI, e de um processo de recuperação durante o qual o seu passivo foi drasticamente reduzido e com prazos de pagamento a longo prazo (10 anos), tendo os trabalhadores abdicado de 90 por cento das suas remunerações em atraso. A intervenção do Ministério Público já foi solicitada pelo STBA e o PCP da Guarda exigiu na semana passada o apuramento de todas as responsabilidades naquilo que apelidam de «crime contra a economia da região e contra os trabalhadores da Gartêxtil».

Num comunicado, os comunistas consideram que a empresa foi «vítima da falta de medidas sérias e atempadas para a modernização e desenvolvimento do sector têxtil e do papel negativo do sector financeiro em todo o processo». E denunciam não ter havido uma fiscalização «adequada» da gestão da empresa, «que prevenisse a eventual existência de irregularidades na facturação e desvio de clientes para a Carveste, empresa antes concorrente e que em 1997 passou a ser proprietária», recorda o PCP, que lamentam que a auditoria às contas e gestão da Gartêxtil «nunca tenha sido feita, apesar da exigência de mais de 4.000 assinaturas e do Estado ser lesado em cerca de dois milhões de euros». O PC guardense aguarda explicações do Ministério da Economia, que responsabiliza pelo encerramento a par do Governo PS, na pessoa do ex-ministro Pina Moura, «que ligou a Gartêxtil a uma empresa que na altura já tinha dificuldades de gestão». Por outro lado, os comunistas classificam de «especialmente preocupante» o reconhecimento da parte do Ministério da Economia de que a massa falida da empresa «não será previsivelmente suficiente para garantir o ressarcimento dos direitos dos trabalhadores».

Recorde-se que em Março último, o ministro da Economia garantiu que o seu gabinete estava a apurar as condições em que decorreu o fecho da fábrica e se os administradores da Gartêxtil cumpriram a lei e os compromissos contratuais assumidos em 1998, aquando da sua aquisição pela Carveste. «Todos os dinheiros atribuídos são-no com base em determinados compromissos e se não houver cumprimento serão retiradas consequências que constam naturalmente dos contratos», disse Carlos Tavares à margem da sessão de apresentação do PRASD. «Temos feito tudo para defender as empresas que estão em dificuldade sempre que isso faz sentido. Só não fazemos aquilo que não é possível», avisou o governante, para quem ter-se-á cometido com a Gartêxtil «o erro de tentar manter um modelo do passado e, como se vê, quando se procura dar mais dinheiro para manter aquilo que existe sem compreender a evolução, normalmente o dinheiro é perdido. É isso que queremos evitar», conclui o ministro.

Luis Martins

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