O PS que hoje nos governa é bem diferente do dos tempos de Mário Soares e isso já todos perceberam. Para além de muitas outras, a maior diferença reside no absoluto vazio ideológico e doutrinário do “conjunto parlamentar” que nos governa, pois não tem um pensamento estruturado sobre a coisa pública e, ou se concentra em reverter o que anterior governo aprovou, ou se multiplica em anúncios de reformas e medidas políticas “fraturantes” algumas das quais de uma vacuidade absoluta.
Exemplo: o Orçamento Participativo. Só alguém que desconhece em absoluto a realidade deste tipo de medida, ou o que tem sido a vida dos orçamentos participativos a nível local, é que pode permitir-se, sem no mínimo sorrir, passá-los para a escala nacional. Não é tanto a percentagem ridícula das verbas sujeitas à “escolha” dos cidadãos, como já alguns comentadores salientaram. É sobretudo a manifesta falta de expressão democrática dos resultados deste pretenso exercício de democracia direta.
Será que alguém pode levar a sério que a afetação de recursos públicos possa ser feita desta forma?
Não espanta pois, que, não mostrando este Governo qualquer consistência ideológica ou doutrinária, se entretenha em nos acenar com medidas avulsas que apenas mostram até que ponto António Costa está capturado pelas ideias do Bloco de Esquerda.
Parece que o primeiro-ministro já estará a descer da estratosfera, mas só em privado, claro, falando para os seus e à porta fechada. Será caso para dizer que mais vale tarde do que nunca e nós, também, já não temos nenhuma razão para confiar em António Costa, apenas para desconfiar do que estará, desta feita, a congeminar para se aguentar mais uma vez à tona, num futuro ali ao virar da esquina.
Como já alguém afirmou: «Antes de Costa cair, hão de cair a economia e a sociedade portuguesas. Não teremos apenas um país com dificuldades de se financiar. Teremos uma economia mais estagnada e uma sociedade mais dividida».
Idosos e abandonados
Escrevo este artigo na semana em que se celebrou o Dia Mundial dos Avós e o que me ocorre de imediato é não mais do que pensar como foi possível que os mesmos grupos parlamentares que querem o agravamento do crime de abandono de animais se neguem a legislar a criação de um novo tipo de crime, que é o abandono hospitalar de idosos?
Deixam-nos no hospital, por vezes sem que verdadeiramente careçam de qualquer tratamento médico e, simplesmente, não mais os vão buscar. Os dias passam e não há notícias dos familiares que ali os deixaram, nem de quaisquer outros. Os contatos telefónicos são por vezes falsos, ou os seus titulares não atendem o telefone. Sim, este é o pão nosso de cada dia nos hospitais portugueses, um comportamento que devia ser punível. Devia e podia, não fossem os partidos da esquerda (PS, BE, PCP e PEV) terem chumbado a criminalização do abandono dos idosos nos hospitais ou que sofram semelhante tratamento. Uma verdadeira vergonha.
E a Saúde, sr. ministro?
O anterior presidente da ARS do Norte, Álvaro Almeida, veio recentemente alertar para o risco de colapso do sistema público de saúde a Norte depois de uma dívida de milhões deixar os prestadores de saúde ameaçados. O economista avisou ainda do perigo do efeito dominó «levar à falência» centenas de PME (as que fazem exames e análises) e alertou para um buraco de 100 milhões de euros que o Governo criou nas contas da Administração Regional de Saúde do Norte. O Governo não paga o que deve: os pagamentos em atraso aumentaram dramaticamente por todo o país desde o início do ano.
No Centro Hospitalar do Algarve, e à medida que todos os dias mais gente chega de férias à região, aumenta o caos instalado. Só na passada semana em alguns hospitais, nas Urgências, registaram-se esperas de mais de seis horas.
O Governo falhou na palavra dada e está a transformar, todos os dias, o que era uma probabilidade baixa de sucesso numa elevada probabilidade de fracasso.
Por: Ângela Guerra
* Deputada do PSD na Assembleia da República eleita pelo distrito da Guarda e presidente da Assembleia Municipal de Pinhel