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Paróquia de S. Vicente recupera azulejos à revelia do Igespar

Igreja reabre no domingo, após uma intervenção no interior que durou um ano

Os cerca de oito mil azulejos da Igreja de S. Vicente que estavam em avançado estado de degradação – tendo, há quatro anos, sido recomendada uma intervenção «de fundo e urgente» – foram recuperados pela paróquia. Isto porque o mecenas que estava interessado em salvá-los, e foi anunciado em 2006 pelo PolisGuarda, desistiu do projecto, pelo que não houve outra alternativa do que aquela comunidade de São Vicente, no centro histórico da Guarda, avançar sozinha. Contudo, segundo apurou O INTERIOR, a obra terá sido feita à revelia do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar).

Os azulejos que revestem o interior desta igreja, classificada como Imóvel de Interesse Público em1982, «estavam em iminente risco de derrocada», descreve o padre António Moiteiro – que se recusa a falar sobre o Igespar e a obrigatoriedade de acompanhamento por parte desta entidade. O estado de degradação deste importante património da azulejaria setecentista portuguesa era de tal ordem que, nos últimos tempos, «foram caindo alguns, que foram guardados para depois serem novamente colocados», refere António Moiteiro. As causas foram a humidade e a deteriorização das condições físico-químicas dos materiais constituintes. Daí que a paróquia tenha decidido recuperá-los no início do ano passado, no âmbito de uma intervenção de fundo no interior do templo, que deverá estar concluída esta semana. A igreja, fechada desde então, reabre no domingo. A empreitada incluiu a limpeza da talha, substituição de madeiras, rebocos novos e colocação de um novo altar, entre outros aspectos, sendo que todos estes trabalhos terão sido autorizados pelo Igespar, sabe O INTERIOR.

António Moiteiro não revela qual a verba envolvida nestas obras e, quanto aos azulejos, informa apenas que a intervenção esteve «a cargo de uma empresa de Lisboa». Em 2006, a CA CO3, empresa que fez o diagnóstico dos painéis e apontou soluções – no âmbito de uma mega-operação para os salvar, desenvolvida pela sociedade PolisGuarda –, estimava que seriam necessário 350 mil euros para uma intervenção global, dos quais 140 mil especificamente para recuperar os azulejos. Foi nesta altura que o director-executivo do Polis anunciou que havia uma fundação ligada a uma entidade bancária que se mostrava interessada em financiar a recuperação. «Acontece que essa entidade esgotou entretanto as verbas destinadas ao mecenato e acabou por não poder avançar», justifica António Saraiva, acrescentando que «a crise que veio depois também não ajudou».

Apesar do PolisGuarda não ter conseguido concretizar os seus planos, o arquitecto realça que «houve todo um trabalho, em termos de levantamento, que acabou por ser útil e foi aproveitado» pela paróquia. António Saraiva diz que tem estado «atento» à questão dos azulejos da Igreja de S. Vicente e anuncia que a Agência para a Promoção da Guarda (APGUR), que dirige, prepara-se para instalar junto dos painéis um conjunto de sinalética onde o visitante poderá encontrar informações sobre as cenas retratadas. Os azulejos aludem à vida de Jesus, à Sagrada Família e à Via Sacra. As cenas mais representativas são o casamento de N.ª Senhora, a Anunciação, a Flagelação, a Fuga para o Egipto, a Adoração e as da Via Sacra. Estes quadros desenvolvem-se emoldurados por uma ornamentação rococó, também fantasiada no azulejo. Com fundação medieval, a actual Igreja de S. Vicente, na Rua Direita, corresponde a uma reconstrução efectuada no século XVIII.

Os azulejos foram recuperados por uma empresa de Lisboa

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