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Parecer polémico no cemitério da Covilhã

Moradores duvidam da idoneidade do parecer da DRAOT do Centro, dado por arquitecto que integra a comissão nomeada pela Câmara para avaliação do cemitério

A discussão sobre o local que vai acolher o novo cemitério da Covilhã, que gerou uma certa polémica e contestação ainda há uns meses atrás, poderá voltar à ribalta nos próximos tempos, pois a comissão de moradores afectados pela possível construção do equipamento no local da Corredoura, junto à Adega Cooperativa, volta a colocar sérias dúvidas quanto à clareza do processo. Isto porque o parecer que a comissão pediu à Direcção Regional de Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT) do Centro para averiguar a legalidade e os impactos ambientais do cemitério em terrenos pertencentes à Reserva Agrícola Nacional (RAN), alvos de intervenção do programa Polis, foi dado pelo arquitecto Laia Rodrigues, que além de ser director da delegação sub-regional de Castelo Branco da DRAOT – entidade para qual foi reencaminhada toda a documentação -, «integra a comissão nomeada pela Câmara para a análise e escolha de localização do novo cemitério», acusa Hugo Nobre, da comissão de moradores. Daí não estranhar que o mesmo não tenha colocado quaisquer entraves legais, em termos ambientais, à implantação do cemitério naquele local.

No parecer emitido pela DRAOT, a autarquia pode alterar e desenvolver a zona de intervenção do programa Polis da forma como entender, desde que respeite as normas e as leis. Quanto aos receios de contaminação dos lençóis freáticos e das linhas de água ali existentes, em particular dos efluentes da Ribeira da Carpinteira, o parecer apenas diz que «deverá ser salvaguardada essa proximidade», além de ser «necessária uma drenagem eficaz» para evitar a contaminação dos solos freáticos. Isto tendo em conta que, segundo vários estudos técnicos, este tipo de equipamentos poluem os solos por causa dos efluentes químicos libertados pelas matérias orgânicas. De resto, ficam ainda «muitas questões por responder», tal como «o impacto visual e paisagístico, as sensibilidades emocionais dos habitantes da zona e ainda a questão do trânsito», aponta Hugo Nobre. «Será que estas matérias não serão mais importante que as de ordem legal», pergunta o porta-voz da comissão de moradores. Daí que para este responsável, o parecer «não é vinculativo», pois não terá havido uma análise «aprofundada» do terreno, apesar da DRAOT indicar que «foi efectuada uma vistoria ao local». É que além de não se ter apercebido da presença de técnicos na zona, considera muito estranho que o arquitecto Laia Rodrigues tenha vindo estudar a legalidade de um terreno para o qual «ele próprio deu aval positivo» para a implantação do novo equipamento. Recorde-se que a idoneidade das pessoas pertencentes à comissão de avaliação do novo cemitério já tinha sido posta em causa pela comissão de moradores, uma vez que a maioria dos elementos que a constituem são funcionários da autarquia.

Falta ainda esclarecer as razões que levaram ao afastamento de outros locais, como o Pedregal, Covelo, Campo de Aviação, Refúgio e Santo António. Recorde-se que, segundo acusou o ex-candidato independente à Junta de Freguesia da Conceição nas últimas autárquicas, João Morgado, «não se compreende o abandono» do terreno do Pedregal – Covelo, junto ao Hospital Pêro da Covilhã, que além de ter reunido maior consenso entre os elementos, possuía uma área mais extensa (32.760 metros quadrados) que o da Corredoura (30.728 metros quadrados), e era mais barato.

Os moradores acusam ainda o presidente da Câmara de estar a sobrepor as «questões políticas e de ordem legal à vontade dos covilhanenses», pois até hoje a autarquia não divulgou os resultados da discussão pública, nem recebeu a comissão, que aguarda desde Abril por uma audiência, estranhando por isso a «pressa» de Carlos Pinto em tornar público o parecer da DRAOT do Centro, que tinha sido pedido pela comissão de moradores. Assim sendo, admitem agora a possibilidade de tomar «outras acções» caso a Câmara decida seguir em frente com a decisão sem auscultar os habitantes ou fornecer informações sobre o equipamento a implantar na Corredoura. Mas sobre as medidas a desenvolver, Hugo Nobre prefere «jogar pela calada».

“O Interior” tentou contactar o presidente da Câmara da Covilhã, Carlos Pinto, mas até ao fecho desta edição, não foi possível obter esclarecimentos da parte do autarca.

Liliana Correia

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