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Paragem de autocarro

observatório de ornitorrincos

– Olhe, faz-me um favorzinho?

– Isso depende dos considerandos.

– Dá-me aqui uma ajudinha?

– Pessoa que ajuda, boca que fica muda.

– Simpático da sua parte. É só uma forcinha…

– Temos de ser uns para os outros.

– Verdadinha.

– Isto já se sabe…

– Segure aqui que é mais levezinho.

– Peso que mal se sente nada custa a toda a gente.

– Nem se nota o trabalhinho que dá.

– No fundo, é como quem não quer a coisa.

– Não me venha com essa historinha.

– É sempre o mesmo ramerrame.

– Isso é o que dizem todinhos.

– Quem cá está é que está bem.

– Agora parece o meu vizinho.

– Boa vizinhança é uma segurança.

– Esse não tem juizinho.

– Antes maluco que eunuco.

– Porque viver sem pilinha…

– Só faz falta o que lá está.

– Mas dá cabo da vidinha.

– Cada um é como cada qual.

– Eu cá gosto de carinhos.

– Pessoa que não ama sai mais durante a semana.

– Prefiro deitar-me cedinho.

– Deitar cedo e tarde erguer boa companhia se há-de ter.

– Há quem não vá à caminha.

– A culpa é do sistema.

– Sempre na mesminha…

– Ah, e dos americanos.

– Não posso com essa gentinha.

– É um povo sem jeito nenhum.

– São uns parvinhos.

– Quem se lixa é o mexilhão.

– Julgam que somos galinhas.

– Já estamos quase lá?

– Falta só um bocadinho.

– Se não fosse lá, também ia a outro sítio.

– O que vale é ser direitinho.

– É como tudo…

– É preciso é ter calminha.

– Devagar se chaga o monge.

– Agora vem com piadinhas?

– Esta vida não está para beijos.

– Ai ele é isso? Então deixe lá e obrigadinho.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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