Arquivo

«Para criar um centro comercial ao ar livre é preciso união entre os comerciantes»

Cara a Cara – Entrevista: António Saraiva

P – O centro histórico precisa de mais iniciativas como a do grande folar de Páscoa para atrair mais gente ao comércio tradicional, designadamente ao mais antiquado?

R: Sim, até porque esta é precisamente a área geográfica da APGUR. Embora tenha uma abrangência em termos de cidade e até de concelho no nome, a realidade é que a agência, em termos de candidaturas, só tem financiamentos para esta zona antiga. Os centros históricos ressentiram-se de algum abandono em termos comerciais e habitacionais. Na Guarda, conseguimos captar o centro comercial para junto do centro histórico, de modo a que as pessoas venham ao centro da cidade e que quem está aqui se mantenha. Mesmo assim, o comércio tradicional atravessa alguma crise. Há, por isso, que desenvolver e promover iniciativas que atraiam gente.

P – Como avalia esta iniciativa de Páscoa promovida pelos comerciantes?

R: É necessário que eles também sintam que são parte interessada e organizem eventos. Para se criar um centro comercial ao ar livre é preciso união entre os comerciantes. Sentimos que, até há algum tempo, não se viam como colaboradores uns dos outros.

P – Os comerciantes queixam-se de que o centro histórico atrai pouca gente e antevêem que muitas lojas do comércio mais tradicional vão encerrar a curto prazo. Como encara esta situação?

R: Esta é uma situação que, infelizmente, não aflige só a Guarda. Tem havido uma tentativa, nomeadamente por parte da autarquia, de inverter esta tendência de abandono do centro histórico. Nos últimos oito anos foi feito um investimento bastante considerável ao nível do espaço público, dos arruamentos e largos. O panorama é hoje muito agradável para quem percorre as artérias do centro histórico, mas temos que reconhecer que, se calhar, esteve bastante esquecido durante muitas décadas neste aspecto. Este passo está dado.

P – Que outros passos serão necessários?

R: É preciso criar necessidades. Se tiver de vir ao centro histórico por uma ourivesaria ou pronto-a-vestir, se calhar não venho. A não ser que essa unidade comercial tenha produtos muito específicos. Virei se tiver serviços que não existem no resto da cidade, do concelho e até do distrito. Há que sediar aqui equipamentos. Temos o caso dos serviços municipalizados, que os residentes e comerciantes reconhecem que atraem gente. Vamos ter o Julgado de Paz. São serviços como estes que arrastarão pessoas. Ao nível do poder central há uma medida que seria extraordinária para uma aposta na regeneração urbana, que seria sediar aqui muitos equipamentos e entidades que estão espalhadas pela cidade, muitas vezes em espaços que nem são apropriados, como os apartamentos. Seria o passo número um que deveriam dar para uma regeneração plena desta zona.

P – Haverá de futuro espaço no centro histórico para a pequena mercearia de bairro, por exemplo?

R: Os comerciantes têm também que dar o salto. Têm que investir nos seus espaços. Confrontamo-nos com muitas situações em que o comerciante não evoluiu. E se não evolui, fica pelo caminho. A mercearia, enquanto espaço de referência, característico e cem por cento tradicional, poderá manter-se com o seu atendimento personalizado. Mas o aspecto da loja, bem como o próprio produto ou a forma como é apresentado, tem de acompanhar a procura. Até ao nível do produto tradicional e artesanal, característico da região, tem de haver investimento, nomeadamente no próprio design da embalagem e da forma como se entrega ao cliente. Se tivermos essa diferença, as pessoas irão a essas lojas.

P – Que iniciativas estão previstas para o centro histórico este ano?

R: Neste momento estão a decorrer os “Fins-de-semana com Sabores” e uma exposição urbana de fotografia, que trouxemos para as montras. Vamos ter a Feira de Antiguidades e do Coleccionismo no primeiro domingo de cada mês, entre Junho e Outubro; o Festival Automóvel, com o Escape Livre, em Julho; e o “downhill” urbano, em Setembro. Este ano temos também uma surpresa para os mais pequenos, que será lançada ao mesmo tempo que daremos a conhecer os resultados do concurso de desenho que fizemos junto das escolas do ensino básico dos três agrupamentos da cidade. É um jogo de memória. E os desenhos vão dar lugar a uma publicação, com o título “O meu centro histórico”. Está ainda em marcha um projecto de sinalética patrimonial, no âmbito do programa de Regeneração Urbana.

António Saraiva

«Para criar um centro comercial ao ar livre
        é preciso união entre os comerciantes»

Sobre o autor

Leave a Reply