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Ou vai ou praxa

Extremo Acidental

Já há alguns anos escrevi nestas páginas o que penso das praxes. Julgo-as uma prática sádica, idiota e absurda – isto para não falar daquilo que têm de mau. Mas esta semana as consequências das praxes conduziram a uma situação para mim inimaginável e para a qual não me sentia preparado: estar de acordo com José Sócrates.

Nos últimos dias as praxes foram o ponto forte do comentário público na imprensa, nos blogues e nos táxis. A nota mais relevante que sai dessa opinião generalizada é que neste momento envergonha menos usar um crachá do PSD do que capa e batina. Hoje, os veteranos sentem necessidade de dizer sobre os caloiros o mesmo que os eleitores andam há dois anos a dizer sobre o Governo: “Não fui eu que os pus ali”. Por outras palavras, mais facilmente Pacheco Pereira confessa ter votado em Passos Coelho do que um universitário admite ter praxado outro.

Para mim não existem diferenças entre mal praxado e bem praxado, porque assinalar essa discrepância seria como distinguir entre boa e má tortura. Para ilustrar com um exemplo da história clássica, ter as mãos e os pés bem pregados à madeira e asfixiar rapidamente seria uma boa ou uma má crucificação? Para os que me dizem que sou um exagerado nas analogias que costumo fazer com a praxe – quartéis militares, campos de prisioneiros, arbitragens de Duarte Gomes – dou o exemplo de Jesus Cristo para não me virem com a conversa de que pelo menos as praxes são voluntárias. Jesus também foi para Gólgota de livre vontade para cumprir o seu destino.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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