O tempo do agricultor que escolhia e guardava as sementes, em breve fará parte da história.
A necessidade de aumentar a produção, com menores custos, melhor qualidade e resistência às doenças, incentivou os investigadores para grandes avanços apoiados na manipulação genética, dando origem aos organismos geneticamente modificados (OGM), conhecidos como transgénicos.
Denominam-se assim, porque lhes foram adicionados genes de outra espécie, de forma a conferir-lhes uma característica que antes não tinham. Agora já sabe o que são. Quase 90 por cento dos portugueses não sabe, segundo um inquérito efectuado pela Quercus.
Os exemplos mais comuns são o milho e a soja. A soja está em cerca de 60 por cento de todos os alimentos processados. Por isso, cereais, bolachas, chocolates, hamburguers e pizzas podem conter transgénicos. Por outro lado, leite, carne e ovos podem ter transgénicos, caso o gado tenha sido alimentado com rações compostas com OGM. Nesta situação, o ser humano é também consumidor de transgénicos, ainda que indirectamente.
Na Europa, a Espanha é o maior produtor de transgénicos e a nível mundial os EUA são o maior exportador mundial, sendo responsáveis por 63 por cento do total de OGM cultivados anualmente. Portugal já produziu milho transgénico em 1999. Agora, só importa. Muito provavelmente acabará por ceder a pressões e voltará a fazer parte do clube.
Cerca de 8,25 milhões de agricultores de 17 países plantaram transgénicos em 2004. Prevê-se que, no final da década, 15 milhões plantarão 150 milhões de hectares em cerca de 30 países.
Não fique nervoso porque por agora os maiores consumidores na Europa são os animais.
Os ambientalistas e não só, estão preocupados com os riscos que estas novas espécies manipuladas em laboratório podem representar para a biodiversidade, porque há a possibilidade de matarem mais do que uma espécie de praga. Existem estudos que mostram que joaninhas morreram depois da ingestão de insectos que comeram transgénicos.
Perante estes pressupostos a questão impõe-se, constituirão os transgénicos a solução para o problema da fome no Mundo ou ainda serão benéficos ao ambiente reduzindo a necessidade de pesticidas, ou indo mais longe, assistiremos à produção de milho no deserto?
Alguns investigadores afirmam que sim, garantindo que os OGM possibilitam uma agricultura mais rentável e produtiva, com uma maior variedade de produtos, mais resistentes a pragas, reduzindo o dinheiro gasto em pesticidas assim como o impacto ambiental e que podem ser cultivados em solos e climas com menos aptidões.
Aceitando de barato estas teorias favoráveis, coloca-se outra questão ainda mais pertinente, serão os OGM seguros, isto é, não provocarão alterações graves na nossa matriz e interferirindo nos nossos genes com repercussões ainda não conhecidas para as gerações futuras? Sem dúvida são necessários mais estudos científicos a longo prazo, para dar respostas seguras.
E o problema da fome no Mundo ficará mesmo resolvido só porque produzimos maior quantidade? Não sejamos ingénuos, sabemos que este problema se encontra relacionado com desigualdades sociais e económicas, pelo que a solução não passa obrigatoriamente pelos OGM.
Por outro lado a investigação e a produção destes bens preciosos, diria sem exagero património da humanidade, estão na mão de grandes empresas como a “Syngemta”, a “Monsanto”, a “Ciba-Geigy” cujo interesse económico predomina na maioria das vezes em relação a conceitos de ética e nem sempre as instituições que deviam zelar pelos nossos interesses têm capacidade técnica para o fazer. No futuro todas as sementes poderão estar nas mãos de meia dúzia de multinacionais. Mais, poderão ser elaboradas para que não se reproduzam, isto é, serão produzidas exclusivamente em laboratório.
Os OGM constituem um dos temas mais polémicos da ciência e representam uma caixa de surpresas em termos de impacto na saúde.
Será que o transgénico já chegou ao seu prato?
Por: João Santiago Correia