Li recentemente várias análises anti-americanas e ocorreu-me a ideia de um magistral artigo de Pacheco Pereira a semana passada sobre o mesmo tema. A intolerância americana é fruto de uma enorme desinformação esquerdista e ortodoxa de direita que sempre detestou a liberdade. Na América cresceram grandes críticos do sistema, que divulgaram aos sete ventos os seus defeitos, e só quem não recorda Woody Allen, ou Michael Moore, que com a crítica atingiram a fama e a fortuna, pode dizer que o sistema não fala sobre si próprio. A América é um espaço imperfeito como todos os organismos vivos e os conjuntos de pessoas. A América é um lugar de emigrantes onde há cultura tão inculta como a nossa. Mas na América não houve criminosos sistemáticos de populações, não encontramos mortalidade nos campos de futebol, não vemos chusmas desordeiras por assuntos de freguesias. A América recebeu uma demonstração violenta da natureza, como muitas outras vezes antes, e viu destruir uma área maior que de Braga a Lisboa.
Uma cidade da dimensão do Porto submergiu à violência das águas e de facto a catástrofe não é desmedida. As casas, maioritariamente de madeira, sofreram abalos, mas as instituições, de pedra, lá estão a funcionar. Os diques foram refeitos em oito dias, as necessidades básicas estão a ser supridas e a grande nação da solidariedade levanta-se firme na ajuda. Só quem não conhece a América pode assemelhar aquilo tudo com o terceiro mundo. As catástrofes são iguais mas a protecção civil não tem nada a ver. Imaginem este pediátrico pindérico de Coimbra a receber 600 crianças para cuidados especiais em três dias… Não há submarinos caixão como na Rússia, não há ataques loucos a escolas com 300 crianças mortas, não há 100.000 mortos como na Indonésia, não há milhares de gente sob os escombros da cidade como no Irão. Mas os pobres existem e vão existir sempre, e a própria esquerda hoje percebe que a profissão igual não pode corresponder salário igual. A esquerda hoje já percebe as noções de incentivo e de auditoria. Não somos todos iguais, mas temos todos direitos básicos iguais e isso a América garante nas capacidades de recursos que tem. Também na América os recursos não são ilimitados e têm de ser geridos. Nesta gestão há quem morra e isso é trágico, mas é o preço de umas regalias colectivas de que não queremos abdicar.
Por: Diogo Cabrita