O ritual repete-se todos os dias. Por volta das 8h45, o Marco entra no autocarro da Câmara da Guarda, junto à escola do 1º ciclo da Sequeira, que o leva até ao Outeiro de São Miguel, onde tem aulas até ao meio-dia. Aí apanha novamente a carreira para vir almoçar a casa (ou ao Abrigo da Sagrada Familia, da Rua da Treija), regressando novamente de autocarro à escola “emprestada”. Após o final das aulas, às 16 horas, enquanto não tem actividades de enriquecimento curricular, entra mais uma vez no autocarro que o traz até ao ponto do primeiro “embarque”. Como o Marco há mais cerca de 60 crianças dos segundo, terceiro e quarto anos, matriculados na Sequeira, que fazem diariamente esta autêntica “maratona” de autocarro.
O motivo destas quatro viagens diárias está relacionado com a falta de espaço da escola, que apenas dispõe de duas salas de aula, manifestamente insuficientes para o número de alunos matriculados. Esta situação começou no início do ano lectivo anterior e vai perdurar até à entrada em funcionamento do novo centro escolar da Sequeira, nas instalações da antiga Cooperativa das Frutas. Apesar de inicialmente não terem concordado com esta solução encontrada pela autarquia, os encarregados de educação dos alunos afectados acabaram por se conformar. «Não acho isto normal e é complicado, porque os miúdos chegam ao fim do dia estafados, mas parece que não há volta a dar até o novo centro estar concluído», lamenta Rui Santos. O pai do Marco, aluno do terceiro ano, garante que «os miúdos nunca entram na escola da Sequeira, faça sol ou chuva», embora reconheça que, no Outeiro, «as condições são boas». Outro pai, que preferiu não ser identificado, faz uma afirmação curiosa: «As crianças com oito anos já fizeram mais quilómetros de autocarro do que eu com 30», ironiza. Sendo um autocarro insuficiente para tantos alunos, alguns pais viram-se obrigados a assumir o compromisso de efectuar as quatro viagens diárias com as suas próprias viaturas.
«Aulas rendem muito mais»
Já Vera Bidarra, representante dos pais dos alunos do quarto ano, mostra-se conformada, tal como a maioria dos restantes encarregados de educação: «Os nossos filhos estão a viver uma fase de transição e alguém teria que passar por ela», desabafa. Honorato Robalo, presidente da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas da Sequeira, recorda que «muitos pais mostraram-se renitentes» quando a mudança para o Outeiro começou a ser ventilada, mas que depois acabaram por aceitar, «já que não havia outra alternativa». Agora, resta-lhes esperar pela construção do Centro Escolar da Sequeira, isto apesar de «muitos não concordarem com a opção da antiga Cooperativa, por ser um espaço que está entre uma via férrea e outra terrestre, não se prevendo a possível necessidade de expansão do equipamento», critica. Quanto a Lurdes Ferreira, coordenadora da escola do 1º ciclo da Sequeira, não concorda com a ideia de que as viagens cansem os miúdos. Antes pelo contrário, até sente que, actualmente, com o horário completo «as aulas rendem muito mais» do que no ano passado, quando apenas leccionava à tarde.
Virgílio Bento garante que esta situação era «inevitável» e que só foi possível fazer face a este «problema grave» graças ao «apoio do Padre Geada e do Outeiro, que nos permitiram a utilização de três salas de aula de forma gratuita». Isto porque, na Sequeira, «temos salas para duas turmas e a escola tem cinco. Mesmo se houvesse desdobramento de horários só teríamos sala para quatro, pelo que resolvemos o problema com três salas de excelentes condições», salienta o vereador com o pelouro da Educação na Câmara da Guarda. O Centro Escolar da Sequeira está em fase de concurso público até dia 27 de Outubro, a que se deverá seguir cerca de um mês até à adjudicação. O custo da empreitada é de 2,7 milhões de euros mais IVA e o prazo de execução de 730 dias. Ou seja, só em 2011, na melhor das hipóteses, a estrutura estará pronta, mas o vereador frisa que «falar de prazos de obras é sempre complicado». Quanto estiver em funcionamento, o Centro receberá as cinco turmas da Sequeira e as seis «que estão a mais» na escola da Estação.
Ricardo Cordeiro