Sentes um prejuízo enorme quando te desaparece a caneta que te deram? Sentes uma dor de alma se te riscam o carro que tantos estimas? Sentes uma raiva a crescer nos braços se alguém te levou a carteira ou o casaco? Sentes uma opressão quando os objectos que estimas te fogem da mão? Então tu tens paixão pelas coisas. Então tu adoras os instrumentos terrenos com que te vestes e adornas. Imagina que nada disso era assim, que nada sentias quando perdias a caneta ou te tiravam o carro. Imagina por absurdo que até te dava prazer ver partir os objectos que até ali gostavas. Vendias os móveis da avó, penhoravas o carro do pai e oferecias as cigarreiras do tio. No limite nunca querias nada que fosse material por mais de dois anos. Renovavas a casa, mudavas de carro, compravas novos objectos de prazer. Nós testemunhávamos aquele consumismo feroz e invejávamos a disponibilidade monetária de o poder fazer. Tudo isso era mais fácil se os impostos fossem só sobre o consumo e tu pudesses descontar todas as renovações, restaurações e outros benefícios do património. Bem, mas os objectos são importantes ou não? Guardar tudo é essencial? Esta é a reflexão mais importante que deixo em 2004 para aqueles que têm vindo a atulhar a casa de memórias, não dando lugar a renovações.
Por: Diogo Cabrita